Autor: Helene Wecker
Editora: DarkSide
Páginas: 512
Capa Dura
Dimensões do produto: 23,4 x 16 x 4 cm
Uma fábula eterna Realidade e magia neste aclamado livro de fantasia histórica Os confrontos e as barreiras vividas por duas culturas tão próximas, ainda que aparentemente opostas. Em Golem e o Gênio, premiado romance fantástico que a DarkSide Books traz ao Brasil em 2015, o leitor se transporta à Nova York da virada do século XX, em uma viagem fascinante através das culturas árabe e judaica. Seus guias serão poderosos seres mitológicos. Chava é uma golem, criatura feita de barro, trazida à vida por um estranho rabino envolvido com os estudos alquímicos da Cabala. Ahmad é um gênio, ser feito de fogo, nascido no deserto sírio, preso em uma antiga garrafa de cobre por um beduíno, séculos atrás. Atraídos pelo destino à parte mais pobre de uma Manhattan construída por imigrantes, Ahmad e Chava se tornam improváveis amigos e companheiros de alma, desafiando suas naturezas opostas. Até a noite em que um terrível incidente os separa. Mas uma poderosa ameaça vai reuni-los novamente, colocando em risco suas existências e obrigando-os a fazer uma escolha definitiva. O romance de estreia de Helene Wecker reúne mitologia popular, ficção histórica e fábula mágica, entrelaçando as culturas árabe e judaica com uma narrativa inventiva e inesquecível, escrita de maneira primorosa. Golem e o Gênio foi eleito uma das melhores fantasias históricas pelo Goodreads e ganhou o Prêmio da VCU Cabell de Melhor Romance de Estreia.
“Rotfeld, nervoso, limpou a garganta. ‘Eu quero que você me faça um golem que possa se passar por humano’, disse. ‘E quero que seja uma fêmea.’
O pedido quebrou o silêncio do velho. Ele riu, uma espécie de tosse barulhenta. ‘Rapaz’, ele disse, ‘você sabe o que é um golem?’
‘Uma pessoa feita de barro’, disse Rotfeld, hesitante.
‘Errado. É uma besta de carga. Um escravo corpulento e irracional. Golens são feitos para a proteção e a força bruta, não para os prazeres da cama’
...’Dê-lhe curiosidade’, disse a Schaalman. ‘E inteligência. Não suporto mulheres tolas. Ah’, acrescentou, a inspiração despertando seu interesse para a tarefa, ‘e faça-a respeitável. Não... lasciva. Mas a esposa de um cavalheiro.’...”
Otto Rotfeld é um jovem judeu que era arrogante e estranho, por
isso nunca conseguiu casar, mas ele teve uma idéia, fazer um Golem feminino
para lhe ser servir de esposa e para isso vai a um estranho rabino, ele
consegue sua Golem, Chava, mas na viajem para os EUA ele morre de apêndice e
deixa a pobre criatura sozinha.
Porém chegando a NY ela conhece um velho rabino que sabe o que ela é, e a
acolhe, mas ele guarda um terrível motivo por ter acolhido à.
"...’Se eu vou apresentá-la ao meu sobrinho, preciso dizer a ele o seu nome.’
Ela franziu a testa: “Eu não tenho um nome’.
‘Exato. Já passou da hora de lhe dar um. Você gostaria de escolher um nome para você?’
Ela refletiu por um instante: ‘Não’.
O rabi ficou surpreso: ‘Mas você precisa de um nome!’.
’Eu sei.’ Ela sorriu. ‘Mas prefiro que o senhor escolha um para mim.’
O rabi quis argumentar: ele esperava que o ato de escolher um nome a ajudaria a conquistar sua independência. Mas então ele se censurou. Sob diversos aspectos, ela ainda era como uma criança, e ninguém espera que uma criança escolha o próprio nome. Essa honra cabia aos pais. Nesse caso, ela compreendera o espírito da coisa melhor que ele.
‘Muito bem’, ele disse. ‘Sempre gostei do nome Chava para uma menina. Era o nome da minha avó, e eu gostava muito dela.’
‘Chava’, disse a Golem. O CH fazia um som suave e ondulante no fundo da garganta, o Ava era como um suspiro falado. Ela o repetiu baixinho, experimentando-o, enquanto o rabi a observava, divertindo-se.
‘Você gosta?’, ele perguntou.
‘Sim’, ela respondeu, e era verdade..."
Depois de um tempo, o rabi tem a idéia da Golem, Chava começar a trabalhar na
padaria de um amigo dele, e isso é o que acontece, porém, ela tem que ter
cuidado, pois além dela ser um ser místico, ela consegue ouvir os desejos dos
outros e tem que se controlar para não os ajudarem, isso ocorre, pois mesmo com
a morte de Otto, o motivo de um Golem existir, ainda permanece, e esse
motivo, é servir os outros,
concretizando todos os desejos dessa pessoa, e por isso Chava passa a
‘procurar’ sem querer um novo dono.
Ela, não consegue dormir, e por isso começa a pegar serviços para
arrumar roupas e tals, assim, ela passa seu tempo a noite, fazendo algo
produtivo.
Ahmad, é um gênio, ou djim, ele foi preso há muitos anos por um
feiticeiro em uma garrafa, está garrafa para em NY após viajar com uma moça,
pois sua mãe lhe deu a garrafa de lembrança, ela é muito velha e por isso a
moça queria concertar ela, mas ao ser concertada, ele é solto sem querer.
Ele se torna aprendiz do senhor que o soltou, que é um ferreiro.
E assim ela começa a trabalha e ganhar dinheiro (muito dinheiro, pois seu
trabalho além de ser rápido é muito bom).
Mas ele, como a Golem, também não consegue dormir, e por isso começa a sair por
NY, conhecendo a cidade na madrugada. "Em uma ilha não muito distante, destacava-se uma enorme estátua de mulher, feita do que parecia um metal esverdeado. A escala da estátua era surpreendente. Quantas rochas não deveriam ter sido derretidas, quantos veios metálicos foram escalados para criá-la? E como era possível que não partisse aquele fino disco de terra, afundando nas águas? - Djim"
Esses dois são o completo oposto um do outro, ela é nova, acabou
de 'nascer' e ainda está na flor da juventude, ele vive há séculos e tem o
calor de uma vida bem vivida, mas mesmo assim eles têm algo em comum, são novos
neste bravo mundo novo, fora que ele viveu muito tempo dentro de uma garrafa e
não sabe muita coisa desse novo mundo.
Numa noite fria, depois de um acidente com um conhecido de Chava, esses dois
enfim se esbarram, e mesmo com as diferenças se tornam grandes amigos, e se
divertem conhecendo a vida noturna de NY, mas um acidente (nada terrível)
acontece numa noite e infelizmente esses dois se separam.“...
‘Parece que não conseguimos conversar sem brigar.’ As palavras dela se aproximavam desconfortavelmente do curso de seus pensamentos; ele considerou se, às vezes, seria realmente tão opaco quanto ela dizia. ‘É estranho que possamos ser amigos. Espero que você me considere uma amiga, não um fardo. Não quero que esses passeios lhe causem apreensão.’ Ela lhe lançou um rápido olhar, como se estivesse envergonhada. “É estranho não saber. Se fosse outra pessoa, eu não teria coragem de perguntar.’
Ele demorou um pouco para responder, e foi um desafio fazê-lo com a mesma franqueza dela. ‘Eu aguardo ansiosamente pelos nossos passeios. Acho que fico ansioso até pelas discussões. Você entende como é a minha vida, mesmo quando discordamos. Arbeely se esforça, mas não consegue ver as coisas do mesmo jeito que você.’ Ele sorriu. “Então, sim, eu a considero uma amiga. E sentiria falta disso se parássemos de nos ver.” Ela devolveu o sorriso, parecendo um pouco triste. ‘Eu também.’
...”
Mas será que esses dois vão voltar a serem amigos? O que irá acontecer com
eles? Para descobrirem, terão que ler essa incrível história.
Acompanhamos também outros personagens, como Arbeerly, o cara
que acolheu o djim e que vira seu amigo, Michael, sobrinho do rabi que ajuda
Chava, Sophia, uma moça rica que conhece o djim no Central Park, o feiticeiro
que a criou (que está em busca da vida eterna), entre outros personagens que
tem suas vidas entrelaçadas mesmo sem saberem um do outro.
Enquanto isso desvendamos o passado do Djim, sabemos que ele é
fascinado pelos humanos e por isso observava muitas caravanas, sabemos que ele
criou um palácio magnífico no meio do deserto e que uma humana, Fadwa o viu e
por isso, o djim a visita nos sonhos.‘Claro que temos pais’, ele disse. ‘Precisamos vir de algum lugar. Mas noivado, casamento... não, essas coisas são desconhecidas para nós. Somos muito mais livres em nossos afetos.’
Ela arregalou os olhos ao ouvir a declaração do Djim. ‘Você quer dizer… com qualquer um?’
Ele gargalhou ao perceber o ar atônito da jovem. ‘Eu prefiro mulheres, mas, sim, você entendeu o espírito da coisa.’
Ela enrubesceu. ‘E com mulheres… humanas?’
‘Nada até o momento.’
‘... Ela desviou o olhar. ‘Uma moça beduína que agisse assim seria rejeitada por todos.’
‘Uma punição muito dura por simplesmente agir segundo seus impulsos naturais’, ele disse. Aquilo, pensou, estava cada vez mais intrigante – não as ideias humanas, que eram ridículas, rígidas e inúteis, mas as idas e vindas daquela conversa, a maneira como ele a fazia corar à leve menção de um simples fato da vida.
‘São nossos costumes’, ela disse. ‘Quão duras seriam nossas vidas se ainda tivéssemos de nos preocupar com casos amorosos e ciúmes? É melhor assim, acho.’
...”
E também como ele foi pego e preso (ainda servindo de escravo).
Os personagens são ÓTIMOS, até mesmo o ‘vilão’ que no final
mostra um motivo nobre (porém bobo) para fazer o que esta fazendo na história.
“...‘Chava’, ele disse, ‘é uma ironia cruel que você tenha mais
dificuldade exatamente quando as pessoas à sua volta estão se comportando
melhor. Suspeito que você acharia mais fácil se todos nós deixássemos a
educação de lado e fôssemos atrás dos nossos desejos.’
Ela refletiu. ‘Seria mais fácil no início. Mas depois vocês feririam uns aos outros
para realizar seus desejos e teriam medo uns dos outros, e ainda assim continuariam
querendo coisas.’
Ele ergueu as sobrancelhas em aprovação. ‘Você está se tornando uma ótima
estudante da natureza humana’..."
Chava é praticamente uma, porém aprender as coisas facilmente, toda a ideia dela
tentar aprender a não ajudar as pessoas é bem leal, a ideia dela também, que
muitos se perguntam, dela ser um ser de barro, mas poder ter sentimentos e amar
é bem legal.
"...É importante aprender a agir de acordo com o que as pessoas dizem e fazem, não com o que elas desejam ou temem. Você possui uma janela extraordinária para a alma das pessoas e, por isso, verá muitas coisas feias e incômodas, muito piores do que a minha vontade de não ter você por aqui. Você precisa se acostumar com isso e não fazer caso delas.”
Ela também é tímida, inocente e MUITO bondosa (esse ultima me irritou um pouco,
porém mesmo com isso, não tem como não se apaixonar por ela).
"De repente, lá estava: uma mulher verde acinzentada em pé no meio das águas, segurando uma tabuleta em uma das mãos e ostentando uma tocha na outra. Seu olhar era impassível, e ela estava totalmente imóvel: seria também um golem? Então a distância ficou nítida, e ela compreendeu o quão longe estava a mulher, e o quanto ela era gigantesca. Não estava viva, afinal; mas os olhos inexpressivos e serenos traziam, contudo, um sinal de compreensão. E as pessoas no convés acenavam e gritavam para ela com júbilo, rindo e chorando ao mesmo tempo. Esta também é, pensou a Golem, uma mulher que fora construída. Seja lá o que significasse para os outros, era amada e respeitada por isso. Pela primeira vez desde a morte de Rotfeld, a Golem sentiu algo como esperança. - Chava"
Já Ahamad é espirituoso, corajoso e sabe aproveitar muito bem a vida dele. Ele
é bem rebelde também, se rebelando com o amigo dele (que o ajudou), e saindo
pela cidade de NY à noite e fazendo o que quer.
“ ...’Quem quer que tenha sido’, disse ele, ‘era brilhante, temerário e bastante amoral.’ Ele suspirou. ‘Você consegue captar os desejos alheios?’
‘E os medos’, ela respondeu. ‘Desde que o meu mestre morreu.’
‘Foi por isso que você roubou aquele knish para dar ao menino?’
‘Eu não queria roubar’, ela respondeu. ‘Mas ele estava... tão faminto’... '
“Um homem pode desejar algo por alguns instantes, mas uma grande parte dele rejeita esse desejo. Você deve aprender a julgar as pessoas por seus atos, não por seus pensamentos.”
“O Djim olhou para Arbeely como se ele tivesse proferido um insulto. ‘Mas eu não durmo na oficina.’
‘Então onde você tem dormido?’
‘Arbeely, eu não durmo.’
...
‘Você não dorme? Quer dizer... nem um pouco?’
‘Não, e estou feliz por isso. Dormir me parece uma enorme perda de tempo.’
‘Eu gosto de dormir’, protestou Arbeely.
‘Isso é porque você se cansa.’
‘E você não?’
‘Não da mesma maneira’...”
“...’Se eu não dormisse’, meditou Arbeely, ‘acho que sentiria falta dos sonhos.’ Ele franziu o rosto. ‘Você sabe o que são sonhos, não sabe?’
‘Sim, eu sei o que são sonhos’, respondeu o Djim. ‘Eu posso entrar neles.’
Arbeely empalideceu. ‘Entrar neles?’
‘É uma habilidade rara. Apenas alguns poucos clãs de djins superiores a possuem.’ Mais uma vez Arbeely percebeu a arrogância trivial, indiferente. ‘Mas só posso fazê-lo na minha forma verdadeira. Então não precisa se preocupar: seus sonhos estão seguros.’...”
Ele tem uma fixação em fazer pássaros, e se você perceber bem, isso esconde uma
analogia com a situação dele, pois mesmo ele estando livre da garrafa, ele
ainda está preso ao seu carcereiro.
Como falei, o livro passos outros personagens, como o rabi que
ajuda Chava, o ferreiro Abeerly, Michael, Sophia, etc, e todos eles são
importantes, mesmo aqueles que não aparecem muito.
Desses personagens, o que mais gostei foi Sophia, que não aparece muito - o que
é uma pena - mas tem um final digno da pessoa que ela é.
A escrita desse livro é magnífica demais, me surpreendi MUITO
com ele.
Helene sabe dosar bastante as descrições que ela dá sobre a NY do passado (não
tem como esquecer por exemplo quando Chava vê a Estátua da Liberdade e nem
quando o vilão, Joseph, vê NY por cima), fora as partes em que ela fala do
deserto que o Djim morava e de seu palácio.
“Olhou para baixo, observando as ruas estreitas, e se deu conta de que a cidade
também era um labirinto. E, como todos os labirintos, escondia algo precioso em
seu coração.”
As culturas que Helene escolheu para colocar em sua fantasia, também, são
cativantes demais, me apaixonei por elas. Fora o conflito entre essas duas
culturas, uma mais mística, e outra mais pé no chão.
O livro também possui uma escrita bem fluida e quando você começa lê-lo, não
tem como parar (eu por exemplo engatei a leitura e em dois dias acabei).
Ele também é bem emocionante, me peguei chorando em vários momentos.
De longe, um dos melhores livros que li esse ano, e um dos melhores que li na
vida com toda certeza do mundo, vou levar essa história com muito carinho no
resto de minha vida!
Nota: 5/5 + Se tornou um dos favs.
QUOTES
"A Golem não conseguia tirar os olhos da forma imóvel que
jazia sobre a mesa. Pouco antes, ele era seu mestre, sua razão de ser; agora
parecia não ser nada. Ela se sentia atordoada, sem lastro. Deu um passo à
frente e tocou o rosto do mestre, seu queixo fraco, suas pálpebras caídas. O
calor desaparecia de sua pele."
"Não era a primeira vez que ele desejava ter um confidente,
alguém com quem pudesse compartilhar até o mais ultrajante segredo. Mas, em uma
comunidade estreitamente entrelaçada, Boutros Arbeely era praticamente um estranho,
um recluso até, que ficava mais feliz sozinho com sua forja. Ele era péssimo em
manter uma conversa fiada, e em festas de casamento era sempre visto sozinho em
uma mesa, examinando os talheres para checar a marca do fabricante. Seus
vizinhos o cumprimentavam calorosamente na rua, mas nunca paravam para
conversar. Ele tinha muitos conhecidos, mas poucos amigos."
"Fora a mesma coisa em Zahlé. Criado em uma família de
mulheres, fora um garotinho silencioso e sonhador. Ele descobrira o ofício de
ferreiro por um feliz acaso. Ao sair para entregar um recado, parou em frente à
forja local e ficou observando, fascinado, um homem coberto de suor que
martelou uma folha de metal até que esta se transformou em um balde. Era a
transformação que o encantava: de inútil para utilitário, de nada para alguma
coisa. Ele sempre voltava ao local para ficar observando, até que o ferreiro,
exasperado com o fato de estar sendo vigiado, ofereceu-se para admitir o garoto
como aprendiz. Foi assim que o ofício de ferreiro tomou conta da vida de
Arbeely, que praticamente deixou todo o resto de fora; e ainda que, vagamente,
tivesse a ideia de um dia encontrar uma esposa e formar uma família, estava
satisfeito com as coisas do jeito que eram."
“...
‘Bem, mesmo assim, você é mais que bem-vindo...’
Irritado, Djim interrompeu-o: ‘Arbeely, eu não quero viver aqui, acordado ou
dormindo. Por enquanto, continuarei na oficina’.
‘Mas você disse...’ Arbeely ficou em silêncio, sem vontade de prosseguir.
‘Se você me deixar preso aqui por mais tempo, vou acabar enlouquecendo, disse o
Djim, e isso doeu no homem. O plano deles exigia que o Djim ficasse fora da vista
dos outros até que Arbeely lhe houvesse ensinado o suficiente para que ele pudesse
se passar como um aprendiz; mas para isso o Djim era obrigado a ficar escondido
nos fundos da oficina durante o dia – um espaço tão pequeno quanto o quarto de
Arbeely. O ferreiro compreendeu que essa restrição irritava o Djim, mas ficou
magoado por ser comparado a um carcereiro.
‘Acho que eu me sentiria estranho se tivesse de passar toda a noite em um
quarto vendo um homem dormir’, admitiu Arbeely.
‘Exatamente.’ O Djim sentou na beira da cama e olhou de novo à sua volta. ‘E
francamente, Arbeely, este lugar é horrível!’...”
“...’Mas não é a isso que você está acostumado.’
O Djim balançou a cabeça. ‘Nada disso é.’ Distraidamente, ele esfregou o
bracelete em seu pulso. ‘Imagine que você está dormindo, sonhando seus sonhos
humanos. E então, quando acorda, você se vê em um lugar desconhecido. Suas mãos
estão atadas, seus pés presos por grilhões, e você está preso a uma estaca no
chão. Você ignora quem fez isso, ou como. Você não sabe se um dia vai escapar.
Você está a uma distância inimaginável de casa. E então, encontra uma criatura
estranha que diz: ‘Um Arbeely ! Mas eu pensava que Arbeely s eram apenas
histórias para crianças! Rápido, você tem de se esconder e fingir ser um de nós
porque as pessoas aqui teriam muito medo de você se soubessem’.”
“... Arbeely franziu o rosto. ‘Você acha que eu sou uma criatura
estranha?’
‘Você não entendeu nada.’ Esticou-se na cama e olhou para o teto. ‘Mas, sim, eu
acho que os humanos são criaturas estranhas.’
‘Você tem pena de nós. A seus olhos, estamos de mãos atadas e com grilhões nos
pés’...”
"...Leu o livro até o fim três vezes, tentando entender
aquelas pessoas de outros tempos. Seus motivos, necessidades e medos estavam
sempre na superfície, tão fáceis de captar quanto aqueles de quem passava por
ela. E Adão e Eva sentiram vergonha e se esconderam para cobrir sua nudez. E
Caim teve ciúmes do irmão, levantou-se e o matou. Quão diferentes das vidas das
pessoas em torno dela, que mantinham seus desejos escondidos. Lembrou-se
daquilo que o rabi dissera, aconselhando julgar um homem por suas ações, e não
por seus pensamentos. E, a julgar pelas pessoas daquele livro, agir segundo suas
vontades e desejos levava, no mais das vezes, a crimes e desgraças. Mas será
que todos os desejos eram errados? E o garoto faminto para quem ela havia
roubado o knish? Poderia o desejo por comida ser errado quando se está passando
fome? Uma mulher naquele andar tinha um filho que era mascate, em um lugar
chamado Wy oming. Ela vivia à espera de uma carta dele, de algum sinal que a
fizesse saber que seu filho estava vivo e a salvo. Isso também parecia correto
e natural. Mas quem era ela para saber? ..."
“...’Onde está escrito que um homem precisa dar as costas à sua
fé para fazer o bem neste mundo?’, perguntara o rabi, olhando com horror para a
cabeça nua de seu sobrinho, para as costeletas escanhoadas onde antes se viam
peiot.
‘Quem ensinou isso a você? Esses filósofos que você lê?’
‘Sim, e eu concordo com eles. Não em tudo, claro, mas pelo menos quando dizem
que, enquanto mantivermos nossas velhas crenças, nunca encontraremos nosso
lugar no mundo moderno.’
Seu tio riu. ‘Sim, este maravilhoso mundo moderno que se livrou de todos os males,
da pobreza e da corrupção! Que tolos somos nós, que não nos desfazemos de
nossos grilhões!’
‘É claro que muita coisa ainda precisa mudar! Mas de nada adianta ficarmos acorrentados
a uma fé retrógrada’...”
“... 'Perdoe-me, tio, mas é assim que eu me sinto’, disse
Michael. 'Olho para o que chamamos fé e vejo apenas superstição e subjugação.
Em todas as religiões, não apenas no judaísmo. Elas criam falsas divisões e nos
acorrentam a fantasias, quando precisamos nos concentrar no aqui e agora.' A
expressão de seu tio era dura como pedra. “Então, para você, eu sou um instrumento
de subjugação.' ...
‘Sim’, ele disse. ‘Gostaria que não fosse assim. Sei quantas coisas boas você fez
– como esquecer todas aquelas visitas aos doentes? E quando a loja dos Rosen pegou
fogo? Mas boas ações deveriam fazer parte de nosso instinto natural para a fraternidade,
não do tribalismo! E os italianos que tinham o açougue ao lado da loja dos
Rosen? O que nós fizemos por eles?’
‘Eu não posso cuidar de todo mundo!’, disse o rabi, rispidamente. ‘Então eu talvez
seja culpado por cuidar apenas de meu próprio povo. Isso também é um instinto
natural, não importa o que digam seus filósofos.’
‘Mas precisamos ser mais do que isso! Por que reforçar nossas diferenças, mantendo
leis arcaicas e ignorando a alegria de repartir o pão com nossos vizinhos?'...”
“...’Por que eu devo ir se nem conheço essas pessoas?’,
perguntara a Arbeely naquela manhã.
‘Você faz parte da comunidade agora. Eles esperam que você participe desses
eventos.”
‘Achei que você havia dito que eu deveria me manter um pouco distante enquanto
ainda estou aprendendo.’
‘Distância é uma coisa. Grosseria é outra.’
‘Por que seria grosseria, se eu não os conheço? E eu ainda não entendo o propósito
de um casamento. O que poderia levar duas pessoas livres a terem apenas uma à
outra como parceiras pelo resto de suas vidas?’
Mas será que ela também tinha uma alma?..."
"...Ele tinha de ficar se recordando o tempo inteiro do
fato de que ela não era humana. Ela era uma golem e estava sem mestre. O rabi
esforçou-se para se lembrar de seu pequeno golem na ieshiva, de como ele
impiedosamente destruíra a aranha. Eles não eram a mesma criatura; mas, no
âmago, tinham a mesma natureza. Aquela fria falta de remorsos também existia em
alguma parte dela.
Mas será que ela também tinha uma alma?..."
“... Joseph Schall era seu criador. Em sua mente, ela reviu o
sorriso falso, vaidoso, sentiu o vazio sinistro da mente dele.
Mesmo que queimasse as páginas até que virassem cinzas, não seria capaz de
esquecer tão cedo a lista de compras do que Rotfeld desejava em sua esposa. De
certo modo, era edificante conhecer suas origens, mas, ao mesmo tempo, ela se
sentia humilhada, reduzida a nada além de palavras. O pedido de um comportamento
recatado, por exemplo: ela ficou irritada ao se lembrar de suas discussões com
o Djim sobre o tema, da maneira ardente com que ela defendera uma opinião na
qual ela não tinha outra escolha além de acreditar. E se curiosidade era um dos
pedidos, então isso significava que o mérito por suas descobertas, por suas
realizações, não era dela? Não teria nada de seu, apenas o que Joseph Schall
determinara que tivesse? E mais: se Rotfeld não tivesse morrido, ela estaria
plenamente satisfeita!
...”
"...A mente humana não foi feita para abrigar mil anos de
recordações..."
"...Ele caminhou um dia inteiro, carregando a valise. Às vezes,
alguma criatura o espiava à distância, um ghul ou um diabinho, acabando por se
aproximar para investigar, contentes de ver um homem extraviado em uma área tão
isolada – mas então percebiam o que ele era e recuavam, com medo e confusão, deixando-o
passar. Ainda assim, ele se sentia magoado.
De modo geral, o deserto pouco havia mudado desde que partira. Ele passou pelos
mesmos vales e montanhas irregulares por onde um dia vagara, as mesmas cavernas,
escarpas e esconderijos. Mas, nos detalhes, a paisagem estava completamente
transformada. Era como se um milênio de vento, sol e mudanças de estação se
revelasse naquele instante, preenchendo leitos de rios e erodindo morros,
espatifando enormes pedregulhos em pequenos seixos. Ele pensou no teto de
estanho em Nova York, em como ele não era mais um mapa, mas uma relíquia, o
retrato de antigas lembranças..."
Eu já tinha vontade de ler esse livro, mas depois de ler essa resenha, que ficou demais, quero ler ele pra já!! Quero saber mais sobre os personagens da Chava e o gênio, o que acontece com eles, fiquei muito curiosa, deve ser uma história muito envolvente e apaixonante!!
ResponderExcluirOlá Karina, desculpe a demora para responder.
ExcluirMuito obrigado por ter gostado da resenha, o que me dá mais prazer do que fazê-las com todo amor do mundo é o que recebo dos leitores do blog, vocês são uns amores ♥
Sim a história é envolvente e apaixonante demais, e os personagens??? Cada um melhor que o outro, amei demais eles, e tbm estou curioso demais para saber o que vai acontecer com Chava e Ahmad, nossos Golem e o Gênio ☻
Quando ler quero saber o que achou dele.
Xoxo
Olá,quando leio uma resenha elogiosa como essa,em um livro com 512 páginas e que é uma leitura fluída e não dá vontade de parar de ler,sei que não posso deixar de conferir.
ResponderExcluirEu já tinha visto a capa do livro. E achei linda.Mas não imaginava que a história fosse tão diferente e fascinante assim!
A história desses dois seres( Chava e Ahmad),tão diferentes um do outro, mas ao mesmo tempo compartilhando das novidades de um mundo até então diferente para os dois,é muito interessante.
Eu fiquei aqui super curiosa em conhecer cada um dos personagens. sem contar que adoro esse gênero de livro.
Ótima dica! :)
Olá Janaina, desculpe a demora para responder.
ExcluirO livro é grande, mas a história é tão cativante, realmente não queria parar de ler, só parava por causa do sono, hihi, li ele quando estava de férias o que me possibilitou poder ler ele de uma vez só (amo fazer isso, mas sofro quando acabo de ler, vai entender).
Esses dois são amores demais, AMEI muito ambos, e adorei poder ver de camarote eles conhecendo Nova York na virado do século XX ♥
Quando ler, me fale o que achou menina.
:-)
Oi Felipe! Tudo bem?
ResponderExcluirOlha, fiquei meio perdida, é uma história com vários personagens ligados, e deles a Chava parece ser a mais interessante e muita coisa vai acontecer com ela né?
Fiquei bem curiosa para ler e tentar entender um pouco mais, gostei bastante dos quites que escolheu.
Bj
Ola Vitória, tudo sim e com você?
ExcluirDesculpe a demora para te responder.
Sim são muitos personagens, mas na hora da leitura, tenho certeza que você não vai ficar perdida não, todos eles estão ligado de algum modo, o que deixa a história ainda melhor.
Chava é um amor, minha fav, mas tbm gostei demais do Ahmad tbm é um ótimo personagens e terminei o livro gostando MUITO dele e aflito com a situação dele.
Obrigado por ter gostados dos quotes, amei demais escolher eles, e olha que foram muitos (não consegui nem me desfazer de nenhum deles).
Xoxo
Oi Felipe ;)
ResponderExcluirEssa parece uma história bem complexa e que apresenta um mundo bem inédito criado pela autora. Tudo parece ter sido pensado com detalhes, e dá para perceber isso quando você disse que os personagens e até o vilão são bem descritos e desenvolvidos!
Adorei os quotes que você separou, e já quero ler O Golem e o Gênero ;)
Abç
Oi Isabela, desculpe a demora para te responder.
ExcluirSim realmente a autora fez um ótimo trabalho em tudo, nos personagens, na história, deixando tudo bem desenvolvido, mas o livro não é um bicho de sete cabeças, quando você começa a ler, tenho certeza que nem vai se perder.
Obrigado por gostar da escolha dos quotes.
Quando ler, me conte o que achou.
Xoxo
Pela sua resenha dá pra perceber o quanto gostou do livro, já vou adicionar a minha listinha de favoritos. Não conhecia o livro, mas já tinha ouvido falar nele. Achei uma fantasia maravilhosa, mística com personagens diferentes que complementam um ao outro e como vc falou fluida, e olha a grossura do livro. Tem razão de ter ganho prêmios. Deve ser fantástico!! ótima indicação
ResponderExcluirUm beijo Paulinha S
Olá Paula, desculpe a demora para lhe responder.
ExcluirSim amei demais o livro, ele é MUITO bom, os personagens são ótimos demais, não tem como não amar, e nem o fato dele ser grandinho me fez achar ele chato pelo contrario, queria que tivesse mais.
Poucos autores sabem escrever muito, mas sem ser prolixo, e Golem e o Gênio está ao lado das Crônicas de Gelo e Fogo (que li os 5 livros lançados em 2/3 meses) nesse quesito, ambos são grandes, mas maravilhosos demais ♥
Xoxo