Terminei de Ler: O Menino que Desenhava Monstros

O Menino que Desenhava Monstros

Autor: Keith Donohue

Páginas: 260

Dimensões: 16 x 23 cm

Editora: DarkSide Books

Limited Edition (capa dura)

Um livro para fazer você fechar as cortinas e conferir se não há nada embaixo da cama antes de dormir. O Menino que Desenhava Monstros ganhará uma adaptação para os cinemas, dirigida por ninguém menos que James Wan, o diretor de Jogos Mortais e Invocação do Mal.

Jack Peter é um garoto de 10 anos com síndrome de Asperger que quase se afogou no mar três anos antes. Desde então, ele só sai de casa para ir ao médico. Jack está convencido de que há de monstros embaixo de sua cama e à espreita em cada canto. Certo dia, acaba agredindo a mãe sem querer, ao achar que ela era um dos monstros que habitavam seus sonhos. Ela, por sua vez, sente cada vez mais medo do filho e tenta buscar ajuda, mas o marido acha que é só uma fase e que isso tudo vai passar.

Não demora muito até que o pai de Jack também comece a ver coisas estranhas. Uma aparição que surge onde quer que ele olhe. Sua esposa passa a ouvir sons que vêm do oceano e parecem forçar a entrada de sua casa. Enquanto as pessoas ao redor de Jack são assombradas pelo que acham que estão vendo, os monstros que Jack desenha em seu caderno começam a se tornar reais e podem estar relacionados a grandes tragédias que ocorreram na região. Padres são chamados, histórias são contadas, janelas batem. E os monstros parecem se aproximar cada vez mais.

Na superfície, O Menino que Desenhava Monstros é uma história sobre pais fazendo o melhor para criar um filho com certo grau de autismo, mas é também uma história sobre fantasmas, monstros, mistérios e um passado ainda mais assustador. O romance de Keith Donohue é um thriller psicológico que mistura fantasia e realidade para surpreender o leitor do início ao fim ao evocar o clima das histórias de terror japonesas.

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Jack Peter tem 10 anos, síndrome de Asperger e agorafobia. Seu único amigo se chama Nick, e ambos quase se afogaram há cerca de 3 anos. Desde então ele nunca sai de casa, exceto para consultas médicas, e mesmo assim, sob altos protestos. Sua mais nova fixação é desenhar monstros.

O desenho passava uma energia raivosa. Não havia qualquer sinal de incerteza; as linhas soltas e espirais faziam parte do conjunto.
pg. 29 

Holly e Tim são os pais de Jack, e fazem o melhor que podem para conviver com as condições especiais de Jack. Holly percebe que algo está saindo do controle quando um dia, ao acordar Jack, é surpreendida por um soco no olho. Ela fica preocupada com seu filho, e tenta buscar ajuda onde for possível, inclusive na igreja. 

Enquanto isso, Tim tem a convicção de que seu filho está melhorando e que tudo isso vai passar, e, portanto, não faz nada de mais para tentar ajudá-lo. Inclusive, repreende Holly por sair contando sobre Jack para 'desconhecidos', como o padre e sua governanta, Srta. Tiramaku.

"É uma fase", cortou ele.
"Não é uma fase, Tim. Não é só mais um maldito capítulo, é todo o resto da história."
pg. 175

Estão todos se preparando para a chegada do Natal quando coisas estranhas começam a acontecer na casa do Keenan. Ruídos estranhos, janelas que se abrem sozinhas, vultos misteriosos. A cada dia que passa, coisas mais estranhas acontecem, mas parece que todos percebem menos Jack. Ou ele percebe e não se importa.

"E não sentiu o frio? Não viu nada?"
"Talvez fosse na sua cabeça. Eu vejo coisas o tempo todo."
pg. 66

Jack leva ao pé da letra tudo o que falam para ele, porém, a maioria das coisas que ele diz acaba sendo ignorada por seus pais, que não acreditam ou simplesmente acham que o filho está brincando. Assim, várias vezes ao interrogarem os meninos sobre algo que aconteceu, Holly e Tim acabam pedindo para Jack ficar quieto e pedem para que Nick fale o que sabe.

"Às vezes, eu vejo coisas", disse ele a sua mãe. "E então, elas vão embora. Mas eu nunca vi algo aqui dentro. Nem mesmo um camundongo."
pg. 130

Nick vai passar as férias de final de ano junto com os Keenan enquanto seus pais farão um cruzeiro pelo Caribe, e assim que ele chega à casa do amigo, começa a ver e ouvir todas as coisas estranhas que estão acontecendo ali, e que cada dia ficam mais estranhas. Assim que a primeira nevasca cai, as coisas chegam a um ponto insustentável.

"Como poderia ser o vento? O vento por acaso mexe em maçanetas? O vento dá batidinhas nas janelas da cozinha? Alguma coisa está tentando entrar, Tim. Entrar na casa, nas nossas vidas. Eu escuto isso o tempo todo."
pg. 146

A leitura é, em geral, tranquila. Um certo suspense no ar, alguns barulhos estranhos ouvidos dentro de sua casa (brincadeira), mas nada além disso. A história é construída aos poucos e vamos conhecendo os personagens mais profundamente a cada página. Conhecemos sua personalidade, seus medos, e como encaram os problemas. Inevitavelmente, após algum tempo percebemos que os monstros ou fantasmas são diferentes para cada um dos moradores da casa. Nem todas as criaturas são vistas ou ouvidas por todos, e isso nos leva a questionar de onde eles são originários, e se não seriam fantasias criadas por cada um dos personagens, isoladamente, mas ao mesmo tempo.

Esboçado a lápis estava o homem da estrada, o vulto que ele e o sr. Keenan haviam visto mais cedo naquela noite. (...) Jack Peter o havia retratado no ato de se levantar, uma das mãos esticada e implorante e a outra espalmada no chão, apoiando seu peso. O desenho mostrava o mesmo rosto incompleto e olhar vazio da criatura, como se Jack Peter também o tivesse visto na mesma estrada deserta.
pg. 47

Com relação aos personagens, cada um possui seus próprios dramas e problemas e é legal ver a força que precisam ter para seguir cada dia adiante. Deve ser duro conviver com alguém com as necessidades de Jack, e por isso em pouco tempo nos afeiçoamos a algumas personagens, como a sra. Keenan, que tenta fazer de tudo pelo seu filho, embora nem sempre ela esteja certa no que faz. Algumas vezes, porém, as atitudes de Tim nos deixam com vontade de dar uns tapas nele, para ver se ele "acorda pra vida" e deixa seu estado de negação de lado. Para compreendê-los é necessário realmente entrar na casa e na vida dos Keenan, tentando viver cada situação como eles para compreender o quão difícil pode ser sua vida.

"Não tenha tanta certeza sobre as coisas que não pode ver. A mente conjura o mistério, mas é o espírito que fornece a chave."
pg.75 

O terror propriamente dito não é explícito. Na verdade ele vai sendo construído aos poucos e se apresenta sob a forma de suspense, com ruídos e criaturas estranhas, e alguns sustos de vez em quando, e se o autor não tivesse forçado a barra para sexualizar alguns momento desnecessariamente, esse livro poderia perfeitamente ser indicado para leitores até mais novos.

"Eles acham que não estamos ouvindo, mas escutamos tudo. Acham que não estamos prestando atenção, mas vemos tudo. Acham que nossas cabeças estão repletas de coisas imaginárias, mas nós sabemos a diferença entre o que é real e o que não é."
"Estou cansado de desenhar o tempo todo, todos os dias, para tomar conta de tudo. Ninguém me escuta, ninguém me entende."
pg. 206

É legal perceber que mesmo que você queira, nem sempre consegue ajudar alguém, mas que se você não pode, talvez possa encontrar quem possa e isso faz com que valha a pena não desistir.

As páginas finais são decisivas, e, caso alguém tenha por hábito ler a última frase ou último parágrafo do livro antes do resto, eu recomendo que não faça isso. É sério.

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