Terminei de Ler: Espíritos de Gelo

Terminei de Ler Espíritos de Gelo 
Autor: Raphael Draccon
Páginas: 176
Editora: Leya

Espíritos de gelo é um livro que navega pelo tempo e investiga fenômenos mágicos. Resgata aspectos de culturas milenares ao passo que viaja pela contemporaneidade - envolvendo desde séries de TV e os mais novos roteiros de Hollywood a bandas de rock e suas histórias surpreendentes. Seus personagens vivem e revivem histórias que parecem... verdadeiras lendas urbanas.

Neste livro, nada, absolutamente nada, é previsível. Quais são os limites físicos e psicológicos de um ser humano? O que ele é capaz de suportar? Quem pretende entrar no universo de Espíritos de gelo e descobrir isso precisa se preparar para viver emoções intensas - pois quando amor, dinheiro e poder se misturam qualquer final pode ser trágico.





O começo da história é misterioso demais, nosso protagonista aparece do nada no 'Cativeiro'. Ele está sem memórias, e para suas memórias retornarem, ele tem que passar por alguns tormentos e torturas, com tempo ele vai se lembrando um pouco sobre já vida, como era ela, o que ele fazia, sobre seus pais, e é assim que conhecemos um pouco mais sobre ele.
O livro então, acompanha o personagem em 2 momentos, em seu passado, e no presente com ele no Cativeiro. É no passado que está a melhor personagem da narrativa: a namorada do casa, Mariana. Eles se conhecem num momento inusitada, o personagem tentou se suicidar e a menina o ajudou a não fazer isso, porém não temos um flash de memória de como eles começaram a sair juntos.
Em dado momento da história, Mariana leva o protagonista para uma seita religiosa/sexual e é aqui que temos as melhores passagens do livros, com altas performances de sexo (não explicito).

O personagem principal, é um horror, o tipo de cara que corro para não ter amizade, porque? Bem, porque ele é meio machista, riquinho e mimado e não gosto de gente assim, na verdade, os personagens, tirando Mariana, não me cativaram em nada. Acho que faltou um pouco de detalhes, para gostar mais deles. Falando em detalhes, esse não foi o forte de Rafael nessa narrativa, o cara não colocou nem nome no protagonista!!!

A narrativa é muito boa, e misteriosa.
No meio do livro, a história, começa a ir para um rumo totalmente diferente do que eu esperava, vai para um lado erótico, e foi um surpresa enorme isso.
Mas se a história me surpreendeu no meio do livro, o final me decepcionou, pois ele foi meio óbvio, durante a leitura fui percebendo quem poderia ter levado o personagem para esse 'Cativeiro' e no final foi realmente isso, que estava pensando, que aconteceu.

A escrita de Rafael é bem atual, ele utiliza muitas referências (me senti o Capitão em vários momentos do livro), e gostei bastante dela, estou curioso para ler outros trabalhos do autor.

Nota: 2/5

QUOTES

"O balde de água gelada bateu forte como um soco. E, quando digo forte, não me refiro ao forte como o soco de um pugilista na cara de outro treinado para receber golpes, mas forte como o impacto do soco que um pai bêbado dá no filho que se coloca no caminho para proteger a mãe."

"O lugar era escuro e de poucos detalhes como o interior de um homem sem sonhos. Seria algo quase como um desenho de personagens de Jim Lee, ao redor de um cenário de Rob Liefeld. Bem, talvez escuro não fosse o termo mais correto; umbrífero poderia se tratar de uma expressão melhor. Porque no escuro propriamente dito você tem um breu que o impede de ver o que se esconde por ali. Já naquele local, você tinha sombras que dançavam pelas paredes decalcadas, forçando a imaginação a ir a limites que nem sabia que possuía; afinal, um homem em condições precárias descobre rapidamente que não há limites para o horror. [E descobre mesmo]."

"E, diante de tudo que estava acontecendo comigo nos últimos momentos, não era nada bom começar a ter boas memórias.
Uma hora ou outra, a gente sempre começa a se lembrar de tudo o que perderia."

"- Existem três coisas capazes de virar a cabeça de uma pessoa: amor, dinheiro e poder. Dê ou retire qualquer um desses itens, e ela enlouquece."

"Eu sei que o mundo para mim era sombrio o suficiente para fazer a noite nascer antes do pôr do Sol. E os seres humanos para mim eram como quaisquer seres humanos de uma sala fechada de reuniões; e nada do que eu sentia parecia poder ser resumido em 140 caracteres. Era uma dor que batia e batia forte, e batia de dentro. Não era algo que sufocasse; era algo que drenava o que fosse que eu tivesse de melhor, e que se alimentava disso a ponto de deixar apenas as sobras. A ponto de gerar uma sensação que ia contra tudo o que o espírito humano precisa para querer viver e continuar vivo. Uma dor que choro nenhum seria suficiente para curar; uma dor que lhe fazia querer obedecer a comandos depressivos que você não imaginava serem seus, simplesmente para ver se a dor interromperia. Porque se a morte fizesse aquela dor parar, então seria mais fácil viver com ela."

"Se eu fosse um homem ligado a Deus, ali teria sido a hora de procurá-lo e acreditar na fé, afinal, poderiam ser provas que eu precisaria superar.
Como era um homem de matéria, aquilo tinha de ser o fim."

"Fechei os olhos. Abri os braços e tentei sentir se ali o mundo melhoraria. Era uma tentativa difícil, afinal, não é o tipo de coisa em que alguém apostaria seu dinheiro. A probabilidade de o mundo mudar de uma hora para outra deve ser menor que ganhar na loteria. E não sei quais eram as minhas porcentagens de sucesso naquele momento. Mas, fossem quais fossem, elas deram certo."

"- Você pretende mesmo fazer isso?
...
- Você se importa?
- Um pouco... - ela disse, com uma frieza que não era normal. Ao menos não para uma pessoa normal em uma situação daquelas, e não importa o que você diga, que não vai me convencer do contrário.
- Você é alguma dessas Testemunhas de Jeová, vendedoras de Bíblias?
Ela riu. O riso ainda era frio para uma situação como aquela.
- Na verdade, é que eu sou a motorista do carro atrás do seu...
A resposta foi tão natural, que eu também ri. A reação inusitada me levou a me questionar sobre qual era a situação mais surreal que já vira  no mundo: a dancinha do Peter Parker emo em Homem-Aranha 3 ou gargalhar do alto da ponte onde estava prestes a me matar...
- Eu estou realmente atrapalhando o trânsito, não é?
- Olha... - ela disse, mantendo ainda o improvável bom humor. O tom ainda era frio; mas já se encontrava alguma ternura pichada em algum muro. - Eu acho que, se você não mexer logo aquele carro, aquelas pessoas vão matar você...
Eu gargalhei. A vida, de repente, parecia divertida demais para terminar daquela forma."

"- Então você passou a acreditar na ladainha toda? - veio o sinistro déjà-vu.
Entendi o recado.
- Não é que eu exatamente tivesse passado a acreditar...
- Então passou a quê?
Meu ouvido zunia. Mas que desgraçado.
- Seria mais... vivenciar.
- E qual a diferença?
- Quando você vivência algo, não para pra pensar se deve acreditar naquilo ou não."

"- Você acha correto o que está fazendo? Você realmente acha que está me ajudando? Me torturando desse jeito, tanto na porrada quanto no meu psicológico?
...
- Não confunda as coisas. Nós aqui estamos tentando ajudá-lo a lembrar das coisas que você próprio bloqueou. Se as considera ruins, são de sua responsabilidade."

"Era bom preencher o vazio que havia em mim, há tempos, com algo digno de nota. Com algo que se sentia, porque, afinal, toda pessoa com um buraco interno, inicialmente, precisa urgentemente de algo que a faça se sentir viva."

"O interessante desse tipo de aprendizado é que ele é um caminho sem volta. Porque logo que você espia pelo buraco do muro e descobre o que existe do lado de lá, fica difícil retornar à mesma visão do mundo do lado de cá."

"- O sexo sempre foi e será algo natural, divino e realizado como uma forma de adoração na sexualidade grega. Jamais foi discriminado com o pudor adquirido após o advento do Cristianismo, mesmo porque não havia na sexualidade grega o "não divino"."

"...'Se você não se lembrar do que aconteceu nas últimas horas, nós faremos com que sofra ainda mais, como se estivesse em um dos Nove Círculos do Inferno...'
Foi o que eles disseram antes do terceiro eletrochoque.
E essa nem foi uma das piores partes."

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