Terminei de Ler: O Demonologista

O Demonologista
Autor: Andrew Pyper
Tradução: Cláudia Guimarães
Páginas: 328
Dimensões: 14 x 21 cm
Editora: DarkSide Books
Capa Dura 


Basta ler para crer “A maior astúcia do Diabo é nos convencer de que ele não existe”, escreveu o poeta francês Charles Baudelaire. Já a grande astúcia de Andrew Pyper, autor de O Demonologista (DarkSide Books, 2015), é fazer até o mais cético dos leitores duvidar de suas certezas. E, se possível, evitar caminhos mal-iluminados. O personagem que dá título ao best-seller internacional é David Ullman, renomado professor da Universidade de Columbia, especializado na figura literária do Diabo – principalmente na obra-prima de John Milton, Paraíso Perdido. Para David, o Anjo Caído é apenas um ser mitológico. Ao aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, David começa a ter motivos pessoais para mudar de opinião. O que seria apenas um boa desculpa para tirar férias na Itália com sua filha de 12 anos se transforma em uma jornada assustadora aos recantos mais sombrios da alma. Enquanto corre contra o tempo, David precisa decifrar pistas escondidas no clássico Paraíso Perdido, e usar tudo o que aprendeu para enfrentar O Inominável e salvar sua filha do Inferno. Este é um daqueles livros que você não consegue largar até acabar a última página, ainda que vá precisar de muita coragem para seguir em frente. O Demonologista ganhou o Prêmio de Melhor Romance do International Thriller Writers Award (2014), concorrendo com autores como Stephen King. Entrou em diversas listas de melhores livros de 2013, foi finalista do Shirley Jackson Award (2013) e do Sunburst Award (2014), chegou ao topo da lista dos mais vendidos do jornal canadense Globe and Mail e foi publicado em mais de uma dezena de países. O Demonologista chega agora aos leitores brasileiros numa luxuosa edição em capa dura como só a DarkSide Books sabe fazer. Leia O Demonologista antes de ele chegar ao cinema, nas mãos de Robert Zemeckis, diretor de Forrest Gump (1994) e da trilogia De Volta Para o Futuro (1985-1990). ANDREW PYPER (1968) é o premiado autor de seis romances, entre eles Lost Girls (1999), vencedor do Arthur Ellis Award, selecionado pelo New York Times como um dos livros do ano, e best-seller nas listas do New York Times e do Times (Inglaterra). Seu livro The Killing Circle (2008) foi eleito o melhor romance policial do ano pelo New York Times. Três romances de Pyper, incluindo O Demonologista, estão sendo adaptados para o cinema. E ainda assim, seus livros continuavam inéditos em nosso país. Claro que tinha que ser a DarkSide Books para trazer esse mestre moderno do terror e suspense para o Brasil.



David Ullman é um cara normal, ele é professor de inglês na Universidade de Columbia em NY, especialista em mitologia e em narrativa religiosa, o que a seu ver é um pouco hipócrita, pois ele é ateu.
Ele é casado e tem uma filha, a pequena Tess, mas sua vida de casado não anda lá muito boa.
Até aqui sua vida aparece normal né? Sim, mas tudo muda após a visita de uma estranha mulher, que está para lhe fazer um convite, ela o convida para ir à Veneza a trabalho, pois seu cliente está à procura de pessoas com as qualidades de David, um demonologista (o que ela diz, mas ele não se considera)

Em Veneza, David se encontra numa situação totalmente estranha, surrealista e obscura, e para provar que isso é real, alguém o avisa que algo vai acontecer no dia 27 de abril.
Um terrível acidente acontece lá, e depois disso David além de ter que catar os cacos que seu coração se tornou, tem um misterioso enigma para solucionar.
De volta à NY, David, vai a procura desse estranho enigma, mas ele não vai atoa, ele tem um motivo pessoal para isso (que não vou falar), e parte colhendo pistas pelos EUA, ele vai sozinho, mas no caminho, sua melhor amiga, O’Brien, se junta a ele, e assim eles vão até seu objetivo.
O que é esse objetivo? O que motiva David a ir procurar ele? O que acontece em Veneza? O que vai acontecer quando David chegar no final de sua caçada? Leiam O Demonologista e descubram isso tudo junto a David.

Bem, muitos por ai falaram que os personagens do livro não são bons e superficiais, mas como quase sempre, não concordo com isso, ao ler o livro me emocionei demais com certos acontecimentos com David, sua filha Tess e O’Brien e me surpreendi com isso, como é possível nos apegarmos a certos personagens de cara? Por foi exatamente assim com os personagens que Piper criou, gostei deles de cara, e chorei com eles MUITO mesmo.

David e Tess são bem parecidos, são meio depressivos (ou melancólicos como David se chama), e acho que foi isso que me chamou a atenção no personagem, que no fundo são bem parecidos comigo nesse quesito.
David ao ser assim não se permite se aproximar de quase ninguém, incluindo sua própria esposa, o que faz seu casamento desmoronar e uma das poucas pessoas que ele é mais próximo é Tess, sua filha, que também é parecida com ele.
Eu achei ambos os personagens maravilhosos demais, a relação deles é linda, David praticamente cuidou sozinho da filha (afinal dá a entender que ela não era muito chegada á mãe), era ele que penteava seus cabelos, que a ajuda em tudo, e ela percebia que ele era “melancólico” e tinha o sonho de ajudar o pai nisso, o tornando o mais feliz, e isso foi LINDO demais!

O’Brien também é uma excelente personagem, a única outra personagem que me chamou a atenção, ela perdeu o marido, que morreu, e mantem uma linda amizade com David, porém algo bem ruim acontece com ela (não vou falar o que), mas me emocionei demais com toda situação dela.
Essa personagem, se vocês analisarem mais atentamente, verão que é envolta de teorias de que ela não é humana, mas porque isso? Ao longo da história, o demônio Belial (inimigo de David) pede a ele para ele se livrar dela, ou melhor, ele INSISTE nisso, o que é estranho, fora também ela saber de várias coisas que não tinha como saber, porém ela é professora de psicologia e talvez seja por isso que ela consiga enxergar por trás de David e Tess (uma das coisas que ele fala que soa, “estranho”).


Bem não vou mentir, ao ler o título: O Demonologista, eu logo pensei num tipo de narrativa no passado (idade média), com um exorcista todo de preto, com crucifixo no pescoço, uma bilha numa mão e muita água benta, mas a história não é assim e sim nos dias atuais, com um simples professor, o que me surpreendeu bastante.
A escrita de Piper é muito boa, principalmente porque o livro se passa na estrada, adoro livros com viagens, e isso somou mais um ponto na leitura.
O livro tem várias referências a Paraiso Perdido de John Milton, o que me faz ter mais vontade ainda de ler essa obra.
A escrita é em primeira pessoa, da perspectiva de David, então tudo (ou quase tudo) o que se passa na cabeça dele, sabemos, porém o livro tem algumas partes na perspectiva de Tess, que é quando estamos lendo seu diário, o que torna a leitura boa.
O livro foi vendido como de terror, e tenho que concordar com a maioria, ele não tem tanto terror assim, mas olhando com mais atenção, vejo que o terror está presente nas entrelinhas, por exemplo, o demônio possui várias pessoas a longo da trama, pessoas normais, de qualquer religião e me bateu uma medo danado disso e fiquei pensando, e se demônios existirem mesmo e for assim tão fácil deles nos possuírem?!
Fora, que é um terror mais psicológico, e não mais aberto, mais físico, afinal David tem depressão, então além de existirem demônios, que querem algo dele, seja esse algo ruim ou bom (?!), ele tem que lidar com seus próprios demônios. 
O final do livro foi um baque para mim, mas porquê? Sem spoilers, eu não esperava o que aconteceria, não foi clichê e eu queria um clichê, quando eu li e percebi o que aconteceu, fiquei PUTO e sem estruturas, eu me lembrei do final de Nárnia, outra história com um final que não me agradou, e olha, que também tem ligação com um trem (será intencional? Só sei que entendi a referência).

QUOTES

Na noite passada tive o mesmo sonho. Só que não é um sonho. Sei disso porque, quando começa, ainda estou acordada.
 Lá está minha mesa. O mapa na parede. Os bichinhos de pelúcia com os quais não brinco mais, mas que não guardo no armário para não magoar meu pai. Posso estar na cama. Posso estar em pé no meio do quarto, procurando uma meia perdida. De repente, não estou mais.
Desta vez eu não apenas vejo algo. Sou levada daqui para LÁ.
Parada às margens de um rio em chamas. Milhares de marimbondos em minha cabeça. Brigando e morrendo dentro do meu crânio, seus corpos se amontoando por trás dos meus olhos. Picando e picando.
A voz do meu pai. De algum lugar do outro lado do rio. Chamando por mim.
Nunca ouvi sua voz desse jeito. Ele está tão assustado que não consegue disfarçar, ainda que tente (ele SEMPRE tenta).

O cadáver passa boiando.
O rosto para baixo. Então espero que sua cabeça se erga, que mostre os buracos no lugar dos olhos, que diga alguma coisa com seus lábios azuis. Uma das coisas terríveis que ele poderia fazer. Mas ele apenas passa, como um tronco de árvore.
Nunca estive aqui antes, mas sei que é real.
O rio é a divisa entre este lugar e o Outro Lugar. E eu estou do lado errado.
Há uma floresta escura aqui, mas não é esse o problema.
Tento ir para onde meu pai está. Os dedos dos meus pés tocam o rio, e ele murmura dolorosamente.
Então há braços que me puxam para trás. Arrastando-me para as árvores. Parecem braços masculinos, mas não é um homem que coloca os dedos na minha boca. Unhas que arranham o fundo da minha garganta. Pele que tem gosto de barro.
Mas um segundo antes, antes que eu esteja de volta ao meu quarto com a meia perdida na mão, eu me dou conta de que estava chamando meu pai da mesma maneira que ele estava me chamando. Dizendo a mesma coisa o tempo todo. Não palavras que saem da minha boca atravessando o ar, mas que saem do meu coração atravessando a terra, para que nós dois possamos ouvi-las.
ENCONTRE-ME”

“As fileiras de rostos. Mais jovens a cada ano. É claro, sou eu que estou ficando mais velho em meio aos calouros que vêm e vão, uma ilusão, como olhar para o espelho retrovisor do carro e ver a paisagem se afastar de você, em vez de você se afastando dela.”
“E agora chegamos ao fim”, digo-lhes, fazendo uma pausa. Espero que os dedos se ergam dos teclados. Respiro profundamente o ar viciado da sala de aula e sinto, como sempre, a devastadora tristeza que acompanha as linhas finais do poema.
Algumas lágrimas eles derramaram, e logo as secaram; 

O mundo estava à frente deles, podiam escolher 

Onde repousar, e a Providência os guiava:

Eles, de mãos dadas e passos lentos e hesitantes,
Tomaram seu caminho solitário através do Éden. **

Com essas palavras eu sinto minha filha perto de mim. Desde que ela nasceu — e mesmo antes, como a simples ideia do filho que eu queria ter um dia —, é com Tess que eu invariavelmente imagino estar, de mãos dadas, deixando o jardim.

“Solidão”, prossigo. “É isso que toda essa obra realmente significa. Não o bem contra o mal, não um esforço para ‘justificar as atitudes de Deus para com os homens’. Este é o caso mais convincente para provar — mais convincente que qualquer um da própria Bíblia — que o inferno é real. Não um fosso escaldante, não um lugar acima ou abaixo de nós, mas em nós, um lugar em nossa mente.”

“Conhecer-nos a nós mesmos e, em troca, suportar a eterna lembrança de nossa solidão. Ser banido. Vagar sozinho. Qual é o verdadeiro fruto do pecado original? Individualidade! É onde nossos pobres recém-casados são deixados: juntos, mas na solidão da autoconsciência. Por onde eles podem vagar agora? ‘Qualquer lugar!’, diz a serpente. ‘Todo o mundo lhes pertence!’ E ainda assim eles são condenados a escolher seu próprio ‘caminho solitário’. É uma jornada terrível, até mesmo atemorizante. Mas é uma jornada que todos nós temos de enfrentar, tanto hoje como naquela época.”


 “Perguntem a si próprios”, digo, apertando ainda mais a mão imaginária de Tess. “Para onde vocês irão agora que o Éden foi deixado para trás?”
Imediatamente, um braço se levanta. É um garoto no fundo da sala que eu nunca havia chamado, o qual nem havia reparado.

“Sim?”
“Essa pergunta vai cair na prova?”





    "Para mim, é a nuvem negra da depressão. Ou melhor, o que eu relutantemente sou obrigado a chamar de depressão, assim como metade da população mundial já se autodiagnosticou, ainda que esse termo não pareça totalmente adequado ao meu caso. Toda a minha vida, fui perseguido pelos cães negros de uma inexplicável melancolia, apesar da boa sorte que tive na carreira, do casamento inicialmente promissor e da maior ventura de todas, minha única filha: uma menina brilhante e sensível, fruto de uma gravidez que todos os médicos disseram que nunca chegaria a termo, o único milagre que estou pronto a admitir como verdadeiro. Depois que Tess nasceu, os cães negros se afastaram por um tempo. Mas quando ela passou da fase de aprender a andar para o falatório da escolinha, eles voltaram, mais famintos que nunca. Nem meu amor por Tess, nem mesmo quando ela murmurava à noite Papai, não fique triste, podia mantê-los longe.




"Havia sempre a sensação de que alguma coisa comigo não estava certa. Nada que se percebesse externamente — eu sou decididamente “civilizado”, como Diane me descreveu com orgulho quando começamos a namorar, o mesmo termo que ela agora usa com um tom de voz que tem conotações sarcásticas. Mesmo por dentro, sou honestamente livre de autopiedade e ambições frustradas, um estado atípico para um acadêmico de carreira. Não, minhas sombras vêm de uma fonte mais elusiva que as apontadas nos manuais. Com relação aos meus sintomas, são poucos, talvez nenhum, que posso marcar na lista de sinais de alerta dos cartazes do serviço público de saúde mental pregados no metrô. Irritabilidade ou agressão? Só quando vejo o noticiário. Perda de apetite? Sem chance. Venho tentando perder cinco quilos, sem sucesso, desde que me formei. Problemas de concentração? Eu leio poemas de Homens Brancos Mortos e trabalhos de estudantes de graduação para viver — concentração é meu negócio."




"Meu mal é mais uma presença indefinível que uma ausência que esgota todo o prazer. A sensação de que tenho um companheiro invisível me seguindo diariamente, esperando por uma oportunidade, para conseguir um relacionamento mais próximo que aquele do qual já desfruta. Quando criança, tentei em vão imputar-lhe uma personalidade, como se fosse um “amigo imaginário” do tipo que as outras crianças diziam ter. Mas meu seguidor apenas me seguia — ele não brincava, nem me protegia ou consolava. Seu único interesse consistia — e ainda consiste — em ser uma companhia melancólica, maligna em seu silêncio."

“É engraçado que você diga isso sobre mim”, afirma ele.
“Engraçado?”
“Irônico. Talvez seja o melhor termo.”
“Irônico nunca é o melhor termo.”
“Essa ideia, por acaso, foi de Diane. Que nós conversássemos.”
“Você está mentindo. Ela sabe o que eu penso de você.”
“Mas você sabe o que ela pensa de você?”
As cordas da marionete foram puxadas. Will Junger sorri um inesperado sorriso de triunfo.
“‘Você não está presente,” ele diz. “É o que ela fala. ‘David? Como eu posso saber como David se sente? Ele não está aqui.’”
Não há resposta para isso. Porque é verdade. Essa foi a sentença de morte de nosso casamento, e eu fui incapaz de corrigir o erro. Não é vício em trabalhar, nem as distrações de uma amante ou de um hobby obsessivo, nem a distância que alguns homens tendem a assumir à medida que se arrastam para a meiaidade. Parte de mim — a parte da qual Diane precisa — simplesmente não está mais aqui. Ultimamente posso estar no mesmo aposento, na mesma cama, e ela tenta me tocar, mas é como tentar alcançar a Lua. O que eu gostaria de saber, o que eu rezaria para que me contassem se eu acreditasse que preces funcionam, é onde está o fragmento perdido. O que eu deixei para trás? O que, em primeiro lugar, eu nunca tive? Qual o nome do parasita que se alimentou de mim sem que eu percebesse?"

“Vou ficar bem”, ela diz com um sorriso débil.
“É claro. Mas não há razão para você esperar aqui sozinha.”
“Não estou sozinha.” Ela segura meu pulso com ambas as mãos, em sinal de gratidão. “E alguém está esperando por você.”
“Disso eu duvido. Nesses dias, Tess apenas se tranca em seu quarto logo após o jantar e liga o computador. NÃO PERTURBE em néon na sua porta.”
“Algumas vezes as pessoas fecham a porta porque estão tentando encontrar uma maneira de fazer você bater nela.”

"Aperto seu nariz. O pequeno beliscão com o polegar e o indicador, que parei de tentar há alguns anos, devido a suas irritadiças reclamações. Espero outra agora, mas, em vez disso, ela reage da maneira que fazia quando era criança, quando esse era um dos nossos milhares de jogos.
Piiiiiii!
Ela ri. E eu rio com ela. Por um momento, voltamos a ser tolos. De todas as coisas das quais pensei que sentiria falta quando minha filha deixasse de ser criança, não tinha ideia de que a permissão para eu mesmo agir como criança estaria no topo da lista."

"Eu sou o tipo de rato de biblioteca que leu sobre lugares mais do que viajou.
E, em grande parte, até prefiro ler sobre eles a visitá-los. Não que eu não goste de novos lugares, mas estou sempre consciente da minha própria estrangeirice, um alienígena entre os nativos. É assim que eu me sinto, não importa o lugar."

"Ainda assim, estou ansioso para chegar a Veneza. Nunca estive lá, e sua fantástica história e lendária beleza são coisas que mal posso esperar para compartilhar com Tess. Tenho esperança de que a beleza do lugar vá sacudir seu atual estado de espírito. Talvez a espontaneidade dessa aventura e magnificência do destino consigam trazer de volta o brilho dos olhos dela.
Então eu continuo lendo sobre o passado empapado de sangue dos monumentos da cidade, as batalhas travadas pela terra, pelo comércio, pela religião. Enquanto isso, vou marcando os restaurantes e lugares com a maior chance de agradar Tess. Serei para ela o guia de viagem mais bem informado e personalizado que puder."

"Depois de meia hora, estamos perdidos.
Mas tudo bem. Tess está aqui. Segurando minha mão, sem se dar conta dos meus cálculos internos, minhas tentativas de distinguir o norte do sul. O velho no avião estava errado. Perder-se em Veneza é tão encantador como os livros afirmam. Só depende de quem anda a seu lado. Com Tess, eu poderia ficar perdido para sempre. Então me ocorre, com o forte peso da emoção, que, enquanto eu estiver com ela, nunca estarei realmente perdido." 

'“Nós não temos nomes.”
Preciso contestar o que ele diz. Porque o que acontecer depois vai decidir tudo. De alguma maneira eu sei disso. É crucial não deixá-lo perceber que eu penso que pode não ser uma doença mental. Isso não é real. A fórmula para tranquilizar uma criança que lê uma história de bruxas ou gigantes. Isso não existe. Não se pode permitir que o impossível leve vantagem sobre o possível.
Você resiste ao medo negando-o.
“‘Nós’”, começo, fazendo o melhor possível para suavizar o tremor das minhas palavras. “Você não quer dizer que seu nome é Legião, pois você é muitos?”
“Nós somos muitos. Mas você não vai encontrar ninguém.”
“Não estamos nos encontrando agora?”
“Não com a intimidade de alguém que você vai conhecer.”
“O Demônio?”
“Não o mestre. Alguém que se senta com ele"'

"Talvez fosse isso o que a voz queria dizer quando disse o que me esperava. Mover-se assim, sem rumo, é o mais perto que os vivos podem chegar dos mortos. Caminhar de Wall Street até o Harlem, depois voltar, tomando desvios a esmo. Despercebido e ausente como um fantasma.
À medida que ando, algumas vielas da minha mente fazem conexões impossíveis.
Esse é o princípio da loucura. A culpa tão insuportável que entorta a mente. Ter esses pensamentos equivale a renunciar ao mundo e, acreditando neles, ainda que em parte, nunca retornar.
Saber disso não me impede de ter esses pensamentos."

"Uma vez, logo depois de ela ter feito cinco anos, Tess me pediu para deixar a luz acesa quando eu a estava colocando na cama. Até então, ela nunca havia demonstrado ter medo do escuro. Quando eu perguntei sobre isso, ela balançou a cabeça, expressando uma frustração você-não-entendeu-papai.
“Não é do escuro que eu tenho medo”, ela corrigiu. “É do que tem no escuro.”
“Ok. O que tem no escuro que te assusta?”
“Esta noite?” Ela estudou a questão. Fechou os olhos, como se convocando uma imagem em sua mente. Abriu-os de novo assim que conseguiu.
“Esta noite, é uma joaninha.”
Não fantasmas. Não a Coisa que Mora Embaixo da Cama. Nem mesmo aranhas ou vermes. Uma joaninha. Tentei disfarçar, mas mesmo assim ela me pegou rindo.
“O que é tão engraçado?”
“Nada, docinho. É só que… joaninhas? Elas são tão pequenas. Elas não picam. Elas têm essas pintas bonitinhas.”
Tess me encarou com uma seriedade que arrancou o sorriso da minha cara.
“Não é a aparência de uma coisa que a torna má”, afirmou...
“Às vezes, os monstros são reais”, disse Tess, virando de lado e me deixando sozinho com a joaninha me encarando. “Mesmo se eles não se parecem com monstros.”

"Mas a verdade é que todo mundo perde alguém sem o qual eles acham impossível viver. Todos nós temos um momento como este, quando acreditamos que nossa prece dirigida aos céus, nosso melancólico sortilégio, vai produzir um milagre."

"Eu fazia a mesma pergunta todos os dias:
“Você é feliz, paizinho?”
“Estou feliz agora”, ele respondia toda vez.
O engraçado é que eu ainda quero perguntar ao meu pai a mesma coisa. Mesmo agora. Não somente porque estou interessada na resposta.
Eu quero ser capaz de fazê-lo feliz só em perguntar. Respirar perto dele, para que ele sinta, e que isso seja o suficiente."

"Mas, mesmo que eu esteja sozinho, essas pessoas que passam por mim não estão. A jovem mãe que empurra um carrinho de bebê com uma das mãos e, com a outra, leva uma criança que cantarola o alfabeto. Um casal de idade em um beijo de despedida, os dedos tortos do homem no rosto da mulher. Duas mulheres de burca passam por uma dupla de judeus hassídicos, a corrente da multidão se junta a eles por um momento como se em um encontro secreto dos devotos todos-de-preto da cidade. Um homem caminha de salto alto e vestido de festa vermelho, sua peruca estilo Marilyn precisando ser arrumada.
Estranhos absortos em suas tarefas, cruzando o terminal. Mas vê-los apenas dessa forma seria assumir o ponto de vista do demônio. Apagar seus nomes, seus próprios motivos para o sacrifício."

** TRECHO de Paraíso Perdido. 
Nota: 5/5 + fav


Que o livro é bom, todo mundo já deu para ver pela resenha, mas o que vocês podem não saber, é que ele também é MARAVILHOSO, então confiram o De Olho no Livro dele. 






Este post participa da II DarkSeason + Top Comentarista. Deixe seu comentário para concorrer à um livro da editora Darkside. Boa sorte!


13 comentários

  1. Bom, para quem gosta de um bom terror, daqueles bem assustador, porém muito bem construído, descrito, e elaborado, acredito que está e obra que vai agradar, para quem gosta deste tipo de leitura. Porém confesso que ao meu gosto está obra passa longe, já fiquei super assustada de apenas ler sua resenha (risos). Acredito que pelo fato de haver tanto reconhecimento a respeito desta obra, e os prêmios ganhos, muitos leitores fans do gênero iram adquirir está obra.

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    1. Rsrsrsrsrsrs, serio que vc sentiu medo ao ler? Então realmente transmiti o que o autor transmitiu no livro.
      Olha o livro vai além de um terror, e é muito bom, sinceramente uma das melhores leituras que tive nesse ano, ao lado de Golem e o Gênio e Jane Eyre (ambas já resenhados aqui no blog).

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  2. Quero muito ler esse livro, adoro essas histórias de demônios e suspenses, lembrei do filme O Ritual com o Anthony Hopkins, a história é parecida com a desse livro!! Está na minha lista de compras!!

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    1. Olá Karina, desculpe a demora pra responder.
      Olha leia ele, mas ñ esperando muito dele, apesar de eu ter adorado ele, muito não gostaram. Lembrando que quando ler me conte o que achou.
      Amo o Anthony, mas acho que nunca vi esse filme, vou colocar ele na minha lista de filmes para achar na Americanas por 10 reais e comprar (AMO fazer isso nas lojas física da Americanas, antigamente ficava mais de horas olhando os filmes e sempre voltava com alguns pra casa).

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  3. Olá,tudo bem?
    Tenho esse livro aqui,mas ainda não o li.
    Pelo título ,realmente a gente acredita que seja uma história bem parecida com livros mais aterrorizantes como o Exorcista.
    Mas lendo a resenha,me lembrei um pouco da trama do "Código da Vinci".
    Talvez pela procura do personagem por explicações.

    Bem, quero ler essa que parece ser uma incrível história,quando puder ler com mais calma.:)

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    1. Olá Janaina, desculpe a demora para responder, estou ótimo, e você?
      Ainda não li o Exorcista mas também tenho ele, acho que lerei ele ano que vem e provavelmente irei resenhar na época da Dark Season se tiver ano que vem.
      Olha MUITOS criticaram o livro exatamente por essa semelhança com O Código da Vinci, eu ainda não li o livro de Dan Brown, mas vi o filme e adorei, e sim achei um pouco parecido também e apesar da semelhança, gostei demais desse aqui.
      Quando ler me fale o que achou.

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  4. Oi Felipe ;)
    Adoro livros do gênero, ainda mais para entrar nesse clima de Halloween kkkkk e adorei sua indicação. Não conhecia o livro ainda, mas realmente ao ler o título pensei a mesma coisa que você, em um exorcista vestido de preto e tal haha
    Pelos quotes que você separou e seus comentários não vou me arrepender de ler O Demonologista ;)
    Abç

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    1. Oi Isabela, desculpe a demora para responder.
      Eu nunca li nada desse gênero até esse livro e o Amityville lido tbm pela Diovanna, mas resenhado somente por ela, e olha estava com "medo" de ler e não curti muito por não sentir medo facilmente, mas gostei bastante de ambos os livros, e estou louco para me jogar nos outros livros do gênero que tenho.
      Quando ler me conte o que achou.
      XoXo

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  5. Oi Felipe!
    Nossa, me surpreendi com sua resenha. De fato eu esperava uma história totalmente de terror, mas pelo que percebi é mais um drama misturado com suspense. Confesso que não era bem o que eu gostaria ler no livro, mas depois da sua classificação ótima vou ler com certeza, afinal, sendo da Darkside não tem como ser ruim!
    Bj

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    1. Oi Vitória, desculpe a demora para te responder.
      Eu acho que mesmo com a decepção inicial no gênero do livro consegui gostar demais dele, não só pelo fato de curti um pouco de tudo, mas por causa dos personagens maravilhosos, e do enredo também que é muito bom.
      Darkside está de parabéns como sempre.
      XoXo

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  6. Felippe,
    Sempre quis ler esse livro, mas tenho um pezinho atras, pelo medo. E com a sua resenha só se intensificou mais. Mas deu uma curiosidade para saber o final que te decepcionou. Não conta, quero ler. Gosto de livros que tenham cartas, ou tenha a perspectiva de outros personagens, fica mais completo. Fora a edição que está com cara de velha perfeita.
    Um beijo Paulinha S

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    1. Oi Paula, que bom que mesmo com um medinho de se jogar no livro e tbm por causa de minha resenha que só aumentou esse medo, você não desistiu de ler o livro.
      Olha vou te contar, que final foi esse??? Leia o livro e saiba o final para comentarmos, quero saber sua opinião, se gostou ou não, se no fim se surpreendeu.
      XoXo

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  7. Na verdade, me decepcionei bastante com o livro. Achei que era um livro de terror. Não senti medo nenhum. Achei bem clichê. Uma cópia dos livros do Dan Brown. Esperava mais do final. Na verdade é mais um livro que coloca uma disputa imposta pela sociedade do bem contra o mal. Um dramalhão. Resumindo não recomendo.

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