Autor: J.M.Simmel
Paginas: 256
Editora: Abril
“Este livro conta a história de um mundo em profunda crise econômica: a Alemanha do pós-guerra, derrotada e destruída. Seus personagens são pessoas de vida sem horizontes: um desempregado que só vê solução no alcoolismo e no suicídio; um milionário que perdeu tudo; uma mulher que se prostitui. Mas ao mesmo tempo esta é uma história de esperança, cheia de observações irônicas sobre a fraqueza das pessoas que não percebem que a solução para os males do mundo e para seus próprios males está em cada uma delas: são os sentimentos de solidariedade e os valores morais.”
As coisas em Viena no pós guerra (segunda guerra mundial) não são nada fáceis para ninguém, todos vivem uma vida de miséria, sem esperança, e Jakob Steiner é só mais um nesse grande número que é os sem esperanças, mas Jakob chega a conclusão de que há um jeito de tudo ficar 'bem', se matar!
Quando Jakob vai tentar se matar, ele conhece o adorável e otimista Mamoulian, e após não conseguir se matar (
No outro dia Jakob se reencontra com um rosto conhecido, ele se encontra com Magdalena, a senhora que o acolheu antes dele tentar se matar.
Ela foi despejada da casa que estava morando (pois os antigos donos a deixaram morar lá por um tempo, mas o trato era até eles precisarem voltar a morar lá) e a convida para morar no porão de Mamoulian, pois eles precisavam de uma mulher para fazerem os serviços domésticos que 'só elas sabem fazer', mas eles não podiam pagar ela com nada, a não ser a moradia (
Após uns dias, Jakob tem a ideia deles se juntarem e reconstruir a casa de Mamoulian (que havia sido bombardeada na guerra, por isso estavam morando no porão), e mesmo sem dinheiro, eles resolvem fazer isso.
É claro que infortúnios acontecem e a trama não fica só nisso.
Mas se os 3 amigos irão conseguir reconstruir a casa? O que são esses infortúnios? A situação financeira deles vai melhorar? Leiam Ainda Resta Uma Esperança e descubram por si mesmos.
Bem, os personagens do livros são MUITO bons, eles são MUITO diferentes na personalidade principal que tem, um é pessimista, outro realista, e outro um grande otimista, mas é isso que fazem com que se tornem tão grande amigos durante a história, um completa o outro!
Jakob, o pessimista, é de longe o melhor personagem do livro, um dos que mais me identifiquei (o que é estranho, pois também me identifiquei demais com Mamoulian, o otimista, sou muito bipolar mesmo).
Mas então, ele é um bêbado, que não vê motivo nenhum para viver (o que resulta em vários quotes maravilhosos), e por não ver motivo para viver, tenta se matar, como já falei, ele não consegue, mas como? Leiam o livro e descubram.
Após tentar se matar, não conseguir, conhecer Mamoulian, morar com ele e Dona Magdalena, ele muda de pensamento e vê a beleza no mundo, até mesmo nesse mundo horroroso e cheio de miséria do pós guerra.
O otimista Mamoulian, e a segunda pessoa que mais me identifiquei, é um personagem difícil de descrever, mas porque isso? Bem ele me irritou em muitas partes no livro, mas mesmo assim consegui gostar dele, (mais uma coisa estranha sobre mim, gostar de personagem que me irritam).
Ele é um amor de pessoa, era rico e cheio de 'amigos', mas após perder o dinheiro, perdeu os 'bons amigos' também, porém isso não o desanimou de viver, ser otimista, e tentar conquistar o coração de outros seres humaninhos, e é isso o que ele faz com Jakob, Dona Magdalena, ao formar uma família com eles.
Dona Magdalena, é a segunda personagem que mais me cativou, mas também, como uma dona dessas, como não se cativar não é mesmo?! A personagem me fez chorar horrores, tudo por causa de seu passado, ela perdeu o marido, e o filho foi para guerra e nunca mais voltou.
Ela é uma mulher forte, e que luta por tudo o que quer e ajuda MUITO seus dois amigos.
O livro é legal, mas ele tem uma narrativa lenta, o que deixa algumas partes cansativas e monótonas.
Algumas partes no mesmo me irritaram profundamente, o autor me pareceu uma pessoa machista e preconceituosa, um bela exemplo era quando ele falava de Dona Magdalena que tinha como profissão, a profissão de pedreiro, ele sempre falava isso assim: “pedreiro de profissão” e não PEDREIRA com A (
Vocês podem falar que tenho que olhar com olhos da época quando leio algo antigo, mas simplesmente não consigo, e se estou nos tempos de hoje, tenho que ler com esses olhos e apontar tais defeitos.
Eu também esperava um pouco mais da leitura ao ler a sinopse, pensei que o livro seria melhor, não que tenha sido ruim, o que não foi, só não foi bom o bastante para me marcar, e não que eu não aconselho ninguém a ler, cada um tem um gosto e gosto não se discute, então leiam e tenham sua própria opinião.
QUOTES
"Sexta-Feira Santa sempre foi um dia triste, mas naquele ano foi especialmente triste. Árvores e arbustos estavam em flor; o gramado cobria-se de relva nova e verde, o sol brilhava num céu sem nuvens, iluminando todas as casas e ruas da grande cidade. Mesmo assim, uma tristeza imensa se apoderou dos homens. Eles não viam as flores, nem os pardais nos galhos ainda negros e escuros das árvores do parque, os vestidos alegres das mulheres, as muitas lojas que expunham seus objetos preciosos. Os operários nas fábricas sentiam as mãos pesadas como chumbo; os funcionários dos escritórios das grandes repartições, no intervalo do almoço, deitavam o rosto pálido, desanimado, em cima dos braços cruzados e dormiam de cansaço; os camponeses, em suas terras, atravessavam com imensa amargura os campos arados."
"Ninguém naquele ano conseguiu ser alegre de verdade. Até as crianças tinham a testa enrugada de preocupações e os cachorros, que sempre corriam felizes, se esgueiravam acabrunhados, mal ousando latir. Tudo estava tão triste! Quem fosse pensar no motivo chegava à conclusão de que os homens não ousavam mais ser alegres por medo. Medo do futuro e de tudo que ele lhes poderia trazer de violência, novas destruições, injustiças, dor e morte. Temiam não só os moradores da grande cidade de Viena, onde se passa a história que a seguir relataremos, mas também os de outras cidades do continente, de todos os continentes, de todo o mundo. Não havia ninguém que não estivesse com medo."
"Todos os dias, a toda hora, uma avalancha de notícias inundava a cidade, provocando novos receios, despertando pavor no coração dos homens. Na Europa, cuja face ainda trazia as feridas recentes de uma guerra cruenta, soldados de muitas nações, que preferiam estar em casa, montavam guarda de fuzil na mão. Suspeitavam e desconfiavam uns dos outros, e seus comandantes, que tinham vindo para apaziguar um povo derrotado, falavam em guerra. Na Palestina, os árabes matavam diariamente um grande número de judeus e diariamente judeus assaltavam bairros árabes. Ambos invocavam o mundo como testemunhas de uma luta justa. Na Itália, os operários atiravam uns contra os outros, na Eslováquia e nos Bálcãs também. Na França, centenas de milhares estavam em greve. Na China, há anos, homens do mesmo sangue viviam se matando, e milhões passavam fome, implorando um punhado de arroz. Pelo mundo inteiro ressoava o trovejar de aviões de guerra e os passos de marcha de colunas fanatizadas.
Nos Estados Unidos, foi instituído o serviço militar obrigatório; nos laboratórios ocidentais, cientistas trabalhavam noite e dia nos piores de todos os meios de destruição, para alcançar os americanos que, neste setor, ocupavam a dianteira. No mundo inteiro partidos políticos se combatiam, prometendo a seus adeptos mundos e fundos, coisas em que eles mesmos não ousavam acreditar. Os homens estavam desnorteados e alguns começavam a compreender que havia chegado uma era em que tudo teria de se modificar; que se encontravam diante de uma imensa transformação que viria com o fim do segundo milênio da era cristã. Não havia mais para onde fugir; não havia como se proteger. A cada minuto, a cada respiração da humanidade, os acontecimentos se precipitavam. Sabia-se que muitas coisas iam acabar, previa-se e esperava-se que outras fossem surgir."
"Podia-se ignorar tudo o que abalava os ânimos, por algum tempo, mas seria impossível manter-se alheio para sempre. A todos, justos e injustos, forças inconcebíveis, que os homens chamavam de "circunstâncias", acabavam obrigando a tomar partido, o que era uma desgraça enorme, pois a maioria dos homens havia muito tinha perdido essa capacidade quase por completo. Resistiam, se negavam, hesitavam e procuravam ganhar tempo para pensar, mas de nada adiantava. De vez em quando, um dos que por escolha ou decisão chefiavam seu povo se suicidava com um tiro na cabeça, se atirava da janela ou se refugiava no exílio, para ali escrever grossos livros que ninguém lia, fazer longos discursos que de nada adiantavam. Não havia a menor dúvida, os poderosos não encontravam mais saída, os que não detinham o poder acreditavam estar perdidos. Os fortes sentiam que estavam perdendo suas forças, os fracos perdiam a vida a cada dia."
"Após anos de descontrolado uso de explosivos no mundo, a própria natureza começara a se rebelar; em pleno inverno fazia um calor estivai, as flores começavam a desabrochar; no fim da primavera, de repente, começava a nevar, e já era fim de maio quando violentos furacões passavam rugindo pelas ruínas consumidas pelo fogo de uma Europa destruída..."
"Muitas empresas se viram obrigadas a dispensar os funcionários; e em meio a um mundo de destroços, cuja reconstrução poderia ter proporcionado trabalho a todos, surgiu uma nova multidão de desempregados. Como todos os outros, também eles tinham a impressão de que aquele estado de coisas não podia durar, que não adiantava
começar nada de novo, criar família, pôr filhos no mundo, nem mesmo plantar uma hortinha. Como todos, muitas vezes eles se perguntavam qual o sentido desse estranho carnaval que se chamava de vida. Existia realmente uma força do bem capaz de dominar todo o caos? Não havia ninguém que encontrasse uma resposta consoladora para essas perguntas. Muitos procuravam manter a alegria em meio à tristeza geral; conseguiam-no à custa de mulheres, bebidas e um sem-número de superstições. No entanto, por maior que fosse a orgia, mais profunda a embriaguez, mais misteriosas as
fórmulas mágicas; em todos e em tudo sentia-se o reflexo lívido e breve do ocaso, que se espalhava como macabra aurora boreal. Banhadas em sua luz, todas as coisas se tornavam irreais e ilusórias. Não havia mais sentimentos autênticos, nem sensações profundas; tudo era superficialidade, desespero, tédio e repugnância. Uma repugnância terrível! "
"As grandes cidades morriam, e quando um carro atravessava veloz, buzinando pelas ruas destruídas, as criancinhas começavam a chorar. Em Nuremberg, uma cidade da Alemanha, um punhado de garotos brincava de "julgamento por crime de guerra", e um deles foi enforcado por descuido..."
"A Sexta-Feira Santa daquele ano foi um dia especialmente triste. O sol brilhava, o vento soprava leve, os bichinhos se aqueciam sobre as pedras quentes. O rosto das pessoas, no entanto, continuava fechado, taciturno. À tarde, no grande parque a oeste da cidade, crianças brincavam nos gramados e nos caminhos cobertos de cascalho. Seus gritos penetrantes soavam pelo límpido ar primaveril, chegando aos ouvidos de um homem que, sentado na grama no alto de uma colina e com o vale a seus pés, via três menininhas de mãos dadas, brincando de roda. Por muito tempo ficou atento à cantiga. O céu acima de sua cabeça estava claro, prateado. Nuvens pequeninas seguiam para oeste. O sol começara a se pôr. O rosto do homem estava calmo, ele espirava fundo; pensava na melhor maneira de morrer."
"O homem se chamava Jakob Steiner, seu terno era velho e amarrotado, a sola de suas pesadas botinas estava furada, o colarinho da camisa, puído. Jakob Steiner dava a impressão de decadência às pessoas de posse que moravam nas bonitas mansões do bairro e que, passando, viam-no deitado na grama. Um deles, acompanhado por uma jovem, disse que o homem lhe lembrava um espantalho caído. Falou bem alto, e Jakob Steiner ouviu. A mulher atravessou o gramado e veio perguntar se ele estava sentindo alguma coisa. Olhando para suas calças esgarçadas, colocou, muda, uma nota de cinco xelins em sua mão e saiu andando na ponta dos pés, enquanto ele continuou deitado, imóvel. Parecia que ela não queria fazer barulho, mas era apenas vergonha."
Pegou a folha de papel, dividiu-a em três colunas, escrevendo no alto da primeira: "Perdidos". Logo abaixo anotou:
Minha mulher
Minha filha
Minha casa
Meu trabalho
Hesitou, bebeu mais um gole e acrescentou:
Minha esperança
Tinha começado a esfriar. As menininhas voltaram para casa de braços dados; as flores ao redor tinham-se fechado. Steiner passou para a segunda coluna, no alto da qual havia escrito "Ganhos". Embaixo escreveu:
Uma convicção
Hesitou mais uma vez, cobriu as letras cuidadosamente a lápis e pensou:
Qual era afinal a convicção que ele ganhara? Que a única maneira de suportar a vida era deixá-la? Continuou a pensar. Pareceu-lhe que essa quintessência não era o resultado entre o ativo e o passivo de seu balancete. Por isso, riscou a palavra, substituindo-a pela frase:
A impressão de que o mundo se tornou horrível
Na terceira coluna escreveu como título "Previsões para o futuro", e abaixo:
Solidão
Fome Frio
Guerra ..."
— Sim, você tem razão...
A cada palavra balançava a cabeça. Ele tinha razão... o mais acertado que podia fazer era acabar com a vida. Havia apenas algumas dificuldades técnicas a resolver para poder pôr em prática a sua resolução. Como é que se punha fim à vida? Podia meter uma bala na cabeça... se tivesse revólver. Ou tomar veneno, mas não tinha. Ou sentar na cozinha e abrir a torneira de gás, se ainda houvesse cozinha onde sentar... Claro que também era possível jogar-se na frente das rodas de um bonde ou de uma locomotiva, atirar-se da janela de um edifício, cortar os pulsos, mas todas essas técnicas de suicídio eram arriscadas. Se tivesse azar, ia escapar com a vida à qual estava querendo pôr fim, ficando então sujeito à implacável misericórdia alheia, pois as pessoas não conseguem deixar de ser caridosas e prestativas. A melhor coisa para um pobre-diabo como ele, pensou Steiner, era se enforcar. Em qualquer lugar, num canto por onde ninguém passasse, onde pudesse liquidar o assunto em paz, sem ser incomodado por ninguém..."
"A única coisa necessária para uma pessoa se enforcar era uma corda relativamente resistente. Steiner não tinha corda, mas tinha a certeza de que antes do anoitecer conseguiria encontrar uma. Talvez até pudesse arranjar emprestado... afinal, depois ainda seria perfeitamente usável. Talvez até lhe dessem um pedaço; uma corda de roupa, por exemplo. Podia também encontrar uma num jardim qualquer por onde passasse, com camisas penduradas para secar... Já ,meio tonto, Steiner não conseguiu mais se livrar dessa idéia: uma corda... uma árvore... em qualquer lugar; bem afastado da cidade... um pulo... um rápido e horrível arranco, e depois... a Paz!"
" — Entre — disse ela devagar, puxando-o para dentro. Ela era muito forte. Steiner quase perdeu o equilíbrio e foi cambaleando atrás dela. Ela abriu o portão com o pé e atravessou o jardim com ele.
— A senhora tem um bocado de força para sua idade — disse ele.
— Sou pedreira de profissão — disse ela orgulhosa. — Trabalho numa obra. Isso faz a gente ficar forte. Você também devia trabalhar. Se trabalhasse não teria chegado a este ponto.
— Trabalhei — disse ele enquanto ela destrancava a porta. — Era marceneiro, trabalhava o dia inteiro.
— Quando?
— Antes da guerra — respondeu ele. — Ainda me lembro muito bem.
— E depois?
— Depois não fiz mais nada. Ao menos nada que prestasse. Antes da guerra fiz cadeiras e mesas, até algumas camas. Fiz muita esquadria de janela, muita mesmo. Na guerra só matei gente; mais nada. Nem conhecia as pessoas que matava. Talvez até houvesse carpinteiros entre eles. E bem provável, pois existem muitos no mundo. Matei carpinteiros que nem conhecia. Não foi nada divertido. Divertido era fazer camas e mesas; matar gente não era, não. Poderia ter trabalhado esses anos todos, mas a única
coisa que fiz foi matar, e com isso desaprendi a trabalhar. Acho que nem entendo mais de carpintaria."
"O sr. Mamoulian ficou pensando e depois disse:
— Ouça uma coisa: o senhor não pode me ajudar financeiramente, mas poderia fazê-lo de outra maneira. Enforque-se meia hora mais tarde e dê um pulo lá comigo para segurar o arame, para eu não rasgar minhas calças.
— Não me interesso por suas calças!
— Muito bem. Pense então nos olhos tristes da garotinha que no domingo procurará ovos em vão.
— A garota também não me interessa!
— Ora, mas isto não é gentil de sua parte. Não existe nada mais triste no mundo do que uma criança infeliz. Vê-la me parte o coração! A aflição da humanidade inteira parece estar estampada em seus olhos. — O sr. Mamoulian meteu a mão no bolso, tirou um lenço e assoou o nariz sentimentalmente. — Vivemos num mundo muito triste. Se não
conseguirmos proporcionar um ao outro alguma alegria, não sei o que será
de nós!"
"— Se eu não o tivesse incomodado, o galho em cima do qual está sentado certamente já teria quebrado. Ou então o senhor teria refletido um pouco mais, e teria descido daí. Morto é que o senhor não estaria nunca!
— Não? — disse Steiner, sarcástico. — E por que não?
— Porque a morte não o teria levado. O senhor não vai morrer ainda. É cedo demais.
— Ora, deixe de bobagem — riu Steiner. — Morro quando me der na
cabeça.
— Aí é que o senhor se engana — disse o pequenino -, armênio. — Cada um de nós tem sua hora exata. Cada um tem seu dia, nisso não existe arbitrariedade. Meu Deus, o que seria de nós, se cada um pudesse morrer na hora que resolvesse?
— E como o senhor pode saber que ainda não chegou a minha hora?
— Pelo cheiro — respondeu Mamoulian com delicadeza.
— Hein?
— Pelo cheiro — repetiu ele. — O senhor não tem o cheiro de morte, peculiar a todos os que estão para morrer. Vamos, desça logo para podermos conversar direito."
"— E eu, não tenho cheiro de morte?
— Não — respondeu Mamoulian, escorregando inquieto de um lado para outro no galho. — Cheiro de falta de banho o senhor tem, de aguardente e de sopa de feijão. Não tomou sopa de feijão? Está vendo? Por isso tem esse cheiro; mas de morte, nunca."
"— Acho o senhor bem-humorado demais para ter tido grandes desgostos
— volveu Steiner baixinho, meio assustado.
— Meu jovem amigo com cheiro de feijão — disse Mamoulian, que já não estava muito sóbrio —, meu jovem amigo a quem a morte não quis, ouça uma coisa: O senhor perdeu sua casa; eu também. O senhor perdeu a profissão; eu também. Sua filhinha morreu; eu nunca tive filha. O senhor não tem dinheiro; eu também não. Sua esposa morreu; eu nunca tive esposa, mas a pessoa a quem amava não morreu; eu é que morri para ela, meu jovem amigo com cheiro de sopa de feijão, e isso também não é lá coisa das mais agradáveis.
— Mas a esperança — disse Steiner, rodando seu copo —, a esperança o
senhor não perdeu.
— Nem o senhor tampouco.
— Eu, sim.
— O senhor não perdeu a esperança — retrucou Mamoulian —, mas a coragem, o que é uma grande diferença. Ninguém perde a esperança enquanto está vivo. O senhor também não. Ora, logo o senhor! Afinal, por que quis se suicidar?
— Porque acho que no além a vida deve ser melhor.
— Porque tinha a esperança de que fosse melhor; assim como agora, lá no fundo do coração, o senhor já está esperando que nos próximos tempos muita coisa venha a melhorar. E vai mesmo!
— Poderia saber como? — indagou Steiner. — Com toda a crise de desemprego, falta de dinheiro, com a situação política, com tudo, enfim!
Oi Feliz 2018! Estou começando meu blog sobre livros e gostaria de uma ajuda...
ResponderExcluirMe segue? Eu ia amar!
Seu blog é perfeito demais, eu amei!
Um ótimo dia pra você, grande beijo.