A Menina Submersa: Memórias
Autora: Caitlín R.
Kiernan
Tradutoras: Ana Resende e Carolina Caires
Editora: DarkSide®
Número de páginas: 320
Formato: 14x21cm
Encadernação: capa dura
A Menina Submersa: Memórias é um verdadeiro
conto de fadas, uma história de fantasmas habitada por sereias e
licantropos. Mas antes de tudo uma grande história de amor construída
como um quebra-cabeça pós-moderno, uma viagem através do labirinto
de uma crescente doença mental. Um romance repleto de camadas, mitos e
mistério, beleza e horror, em um fluxo de arquétipos que desafiam a
primazia do “real” sobre o “verdadeiro” e resultam em uma das mais
poderosas fantasias dark dos últimos anos. Considerado uma “obra-prima
do terror” da nova geração, o romance é repleto de elementos de realismo
mágico e foi indicado a mais de cinco prêmios de literatura fantástica,
e vencedor do importante Bram Stoker Awards 2013.
O trabalho cuidadoso de Caitlín R. Kiernan é nos guiar pela mente de
sua personagem India Morgan Phelps, ou Imp, uma menina que tem nos
livros os grandes companheiros na luta contra seu histórico genético
esquizofrênico e paranoico. Filha e neta de mulheres que buscaram o
suicídio como única alternativa, Imp começa a escrever um livro de
memórias para tentar reconstruir seus pensamentos e lutar contra o que
seria “a maldição da família Phelps”, além de buscar suas lembranças
sobre a inusitada Eva Canning, sua relação com a namorada e consigo
mesma, que evoca em muitos momentos a atmosfera de filmes como Azul é a Cor mais Quente (Palma de Ouro em Cannes, 2013) e Almas Gêmeas (1994), de Peter Jackson.
Não se assuste: é um livro dentro de um livro, e a incoerência uma isca
para uma viagem mais profunda, onde a autora se aproxima de grandes
nomes como Edgar Allan Poe e HP Lovecraft, que enxergaram o terror em um
universo simples e trivial – na rua ao lado ou nas plácidas águas
escuras do rio que passa perto de casa – , e sabem que o medo real
nos habita. Caitlín dialoga ainda com o universo insólito de artistas
como P.G. Wodehouse, David Lynch e Tim Burton, e o enigmático personagem
Sandman, de Neil Gaiman, com quem aliás, trabalhou, escrevendo The Dreaming, spin-off derivado da obra-prima de Gaiman. A Menina Submersa evoca também as obras de Lewis Carrol, Emily Dickinson e a Ofélia, de Hamlet,
clássica peça de Shakespeare, além de referências diretas a artistas
mulheres que deram um fim trágico à sua existência, como a escritora
Virginia Woolf.
Com uma narração intrigante, não-linear e uma prosa magnífica,
Caitlín vai moldando a sua obsessiva personagem. Imp é uma narradora
não-confiável e que testa o leitor durante toda a viagem, interrompe a
si mesma, insere contos que escreveu, pedaços de poesia, descrições de
quadros e referências a artistas reais e imaginários durante a
narrativa. Ao fazer isso, a autora consegue criar algo inteiramente novo
dentro do mundo do horror, da fantasia e do thriller psicológico.
A epígrafe do livro, retirada de uma música da banda Radiohead –
“There There” –, diz muito sobre o que nos espera: “Sempre há um canto
de sereia lhe seduzindo para o naufrágio”. A Menina Submersa
é como esse canto, que hipnotiza até que tenhamos virado a última
página, e fica conosco para sempre ao lado de nossas melhores
lembranças.
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"Você já passou por dias mais estranhos. Bem mais estranhos, India Morgan Phelps". E sim, já passei. Mas mesmo assim foi estranho e confuso. É a palavra que não sai de minha mente: confuso.
p.260
Eu poderia começar essa resenha como a maioria faz, com a primeira frase do livro, mas acredito que essa palavra traduz melhor o que sentimos durante e após a leitura: Confusão.
“Vou escrever uma história de fantasmas agora”, ela datilografou.
“Uma história de fantasmas com uma sereia e um lobo”, datilografou mais uma vez.
Eu também datilografei.”
Nos dá uma prévia do que encontraremos durante a leitura, mas não do que poderemos sentir.
India Morgan Phelps, ou apenas Imp, é esquizofrênica, condição herdada de sua mãe, que herdou de sua avó... Ela leva uma vida praticamente normal entre seu trabalho, seus remédios, seus quadros e as visitas à Dra. Ogilvy.
Um dia ela decide datilografar uma história. Uma história verdadeira.
"O que não significa dizer que cada palavra será factual. Apenas que cada palavra será verdadeira. Ou tão verdadeira quanto eu consiga."
A história é narrada em primeira pessoa por Imp, e exatamente por isso ela não é linear. Nos vemos em um emaranhado de pensamentos, acontecimentos reais, imaginados, verdadeiros, fictícios, factuais, históricos e futuros. Não há como saber o que realmente está acontecendo e o que se passa apenas na cabeça de Imp. Da mesma forma, alguns relatos são interrompidos pela metade, e justamente na parte que ficamos mais curiosos ela simplesmente datilografa (ou pensa?): "Mas não vou falar sobre isso agora, vou falar sobre isso depois..."
"Este livro é o que é, o que significa que ele pode não ser o livro que você espera que seja."
Durante seu relato, ficamos sabendo, tão bem quanto Imp se recorda, de seu encontro com Abalyn, que iria se tornar sua namorada, e com Eva Canning, a estranha garota encontrada nua e molhada no acostamento ao lado de um rio e levada para casa por Imp.
"Poderia ser qualquer estrada ou qualquer noite. A especificidade não vai torná-la mais verdadeira, somente mais factual."
p. 43
Uma das coisas que chamam a atenção são as lendas que Imp coleciona em pastas. Seu acervo contém várias versões de histórias como Chapeuzinho Vermelho e Alice, de relatos de desaparecimentos e crimes brutais ocorridos na região, além de informações sobre artistas, como o que pintou o quadro Menina Submersa, e sobre sereias, é claro. De certa forma isso acaba influenciando nossa expectativa, pois ficamos aguardando o momento em que alguma dessas histórias guardadas será resgatada e fará sentido no decorrer do livro. De maneira semelhante, é daí que provém os fantasmas de Imp.
"-Você pode querer se lembrar um dia - respondeu ela. - Quando alguma coisa deixa uma forte impressão em nós, deveríamos fazer o nosso melhor para não esquecer. Por isso, anotar é uma boa ideia."
p.22
Apesar de recheado de fantasmas e fatos estranhos, essa não é uma história de terror. É um thriller psicológico, com fantasmas que existem apenas dentro de nossa cabeça, e que, mesmo quando nos livramos deles, não deixam de existir.
"Fantasmas são essas lembranças fortes demais para serem esquecidas, ecoando ao longo dos anos e se recusando a serem apagadas pelo tempo."
p.23
A montagem de um quebra cabeça mostra-se uma boa analogia com o desenvolvimento da história. Afinal, ninguém monta um quebra cabeça sequencialmente, com cada peça encaixando na anterior e recebendo a próxima em seguida. Ele é montado de acordo com as peças que temos em mãos, onde os encaixes são possíveis e as cores da peça parecem fazer sentido com o que esperamos no resultado final. No caso desse livro, temos uma ideia geral de sobre o que a história fala e quem serão os personagens principais logo no início, o que seria a borda ou contorno do nosso quebra cabeça - geralmente a primeira parte a ser montada. Conhecemos um pouco mais sobre Imp e Abalyn, o que encaixa na borda já montada, mas também somos apresentados à fatos novos e aparentemente desconexos, assim como por vezes começamos a montar uma parte específica do quebra cabeça fora da borda que temos e aguardamos o momento certo para juntá-la ao restante. Em A Menina Submersa, partes relativamente grandes do quebra cabeça são montadas fora da borda e encaixadas ao restante apenas no último capítulo, quando nos são dadas as peças de ligação que faltavam para compreendermos a história completamente (ou tanto quanto possível).
"Você não consegue desenhar uma linha reta.
Mas eu posso andar um quilometro torto."
p.207
O livro é recheado de referências: livros, filmes, jogos e músicas, mas não é necessário interromper a leitura para pesquisar mais detalhes a respeito, sendo perfeitamente possível concluir a história sem precisar de informações extras. Além disso, a Darkside nos presenteia com um projeto gráfico de excelência e que mostra que A Menina Submersa não é apenas um rostinho uma capa bonita, mas que tem muito conteúdo. Conteúdo esse que foi cuidadosamente traduzido e revisado.
"As coisas que aconteceram a você te fazem ser quem você é, para o bem ou para o mal."
p.152
É difícil falar dA Menina Submersa sem dar spoilers e sem criar falsas expectativas com relação ao desenvolvimento da história, e esse acredito que é o maior problema que muitos leitores encontram com esse livro: esperar algo diferente do que ele é. Para não nos decepcionarmos com a história recomendo fortemente que ele seja lido com a cabeça aberta, absorvendo a história como um todo e não buscando explicações lógicas para cada fato que for apresentado, e nunca é demais lembrar:
"Não é o que vemos. É o que nos deixam para imaginar. Essa é a genialidade de A menina Submersa..."
p.169
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Este post participa da Dark Season. Para saber mais detalhes e concorrer à um livro da editora Darkside clique aqui.
Tenho muita vontade de ler esse livro há algum tempo. Confesso que minhas expectativas estão bem elevadas com o enredo dessa história. Mas lendo comentários e resenhas,sei que não se trata de um livro tão fácil de se entender. Se é que ao término dele é possível encaixar tudo que está fora da nossa compreensão...
ResponderExcluirBem,mas apesar de ter um certo receio com o que vou encontrar, pretendo conferir.
Olá!! Tudo bem? Eu comprei este livro semana passada, está na estante! Ainda não li (absurdo eu sei). Me encantei só pelo fato de conter sereias nele! Sou uma lunática por sereias.
ResponderExcluirSuper beijos,
Paula Nunes.
Uau! eu nunca tinha lido nenhuma resenha desse livro, sempre achei a edição de luxo muito bonita mas nunca tinha parado pra ler nem a sinopse e preciso dizer: QUERO! Sua resenha está muito boa, de verdade, mas acho que tem muitos quotes rsrs
ResponderExcluirbeijos
Dana
www.feedyourhead.com.br
Oi Já li diversas resenhas desse livro, mas nenhum até o momento tratou esse livro com analogia de um quebra cabeça. Isso me deixou curiosa ao mesmo tempo que me fez pensar que talvez eu acabe achando o livro confuso. Por não ser um livro de horror é um dos poucos que me interessam da editora, gosto muito de livros com teor psicológico e provavelmente irei ler esse um dia, mesmo receando a confusão
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirTenho muita curiosidade de ler A menina submersa. Acredito que é uma história que tem tudo para me agradar. Gosto muito de thrillers psicológicos e fiquei interessada em conhecer a história de Imp. O fato de ser um livro dentro de um livro chama mais ainda a minha atenção.
Adorei sua resenha e os pontos que você ressaltou.
Beijos.
Li
Literalizando Sonhos
Que resenha maravilhosa você fez. Confesso que quando eu resenhei não consegui mostrar tudo o que o livro era, rsrs. E verdade, é fácil esperar uma coisa do livro e acabar se decepcionando, eu mesma no início da leitura quase desisti, mas resolvi continuar e foi uma leitura bastante desafiadora, no fim acabei gostando.
ResponderExcluirbeijos
www.apenasumvicio.com
Oi , tudo bem?
ResponderExcluirEu acho essa edição da Dark muito linda e bem caprichosa, onde tenho amigos que leram esse livro e me indicaram. Eu adoro thriller psicológico e gostei de saber que tem essas referências de livros, filmes, etc.
A menina submersa está na minha lista de leitura e espero poder fazer a leitura ano que vem, porque esse ano tá quase impossível..rsrs.
Beijos!
Olá!
ResponderExcluirJá vi muitos comentários a respeito desse livro, e apesar das lindas edições da Darkside, não curto livros de terror. Apesar de A menina submersa ser um bom livro para quem gosta do gênero, misturando terror e realismo mágico, além das diversas referências, vou passar a dica desta vez.
Beijos.
Helloo, tudo numa nice?!
ResponderExcluirEu já tinha lido uma resenha desse livro em outro blog e não tinha me interessado pela estória. Não curto saber o que acontece somente no final, gosto de margens para outras coisas. Mas de qualquer maneira, tenho certeza que ficaria perdidinha nessa estória com outras estórias dentro também. Fico meio confusa com estória não lineares e saber que a autora brinca colocando uma dentro da outra é interessante, mas ao mesmo tempo acredito que deixa o livro cansativo. Enfim, é isso. Apesar de sua ótima resenha não me senti tentada a conferir o livro.
Beijin...
Olá! Adorei o layout do blog! Sou apaixonada pela capa desse livro, mas ainda não tive curiosidade em ler. Amo histórias cujas partes vão se encaixando, como você citou, como peças de um quebra-cabeça. Também gosto muito de livros que retratam filmes, músicas, jogos e outros livros. Para variar, a edição da DarkSide está caprichada! Quero ler para ver se toda essa "confusão" será uma boa pedida para mim ou não.
ResponderExcluirBeijos!
Karla Samira
http://pacoteliterario.blogspot.com.br/
Bem, há quem ama e há quem odeie esse livro, eu tenho curiosidade, pois gosto de thrillers, pois sempre me deixam com a curiosidade a flor na pele e Menina Submersa, parece ser uma história contagiante e tenho para mim que foi curtir muito, quero comprar o exemplar em breve e espero me envolver muito com o livro!
ResponderExcluirhttp://www.daimaginacaoaescrita.com/
Olá!
ResponderExcluirComprei esse livro no inicio do ano se não me engano e até o momento não consegui realizar a leitura, toda vez que lio uma resenha eu fico louca querendo ler logo.Acho que o motivo de eu não ter lido ainda, é o medo dessa confusão rs' quero estar com a mente tranquila e conseguir entender a história. Parabéns pela resenha e espero conseguir ler esse livro em breve!
Beijos!
Oi Diovana.
ResponderExcluirSempre quis ler esse livro mas confesso que não sabia tão bem assim do que se tratava e lendo sua resenha já fiquei confusa, imagina lendo o livro hahahah (não por culpa da sua resenha, que ta ótima viu!)
Eu adoro thrillers psicológicos mas acho que prefiro uma coisa mais limpa. É claro que é legal trabalhar a mente, tentar ir encaixando as peças mas sinceramente, me falta paciencia para livros como esse.
Enfim, é uma leitura que ainda cogito, mas não tanto quanto antes.
Oi Diovana, sua linda, tudo bem?
ResponderExcluirAcho que o maior desafio da autora foi abrir a porta da mente da personagem e no final conseguir sair, sem se perder. Só por isso, acredito que terei que elogiá-la: como dar sentido para algo que a princípio não faz sentido? Nunca li nada do ponto de vista de alguém com essa doença. Estou super empolgada, quero ser surpreendida. Sua resenha ficou ótima!!!
beijinhos.
cila.
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
Essa história me fascina tanto, morro de vontade de ler. Muito recentemente consegui adquirir o livro, mas ainda não consegui separar um tempinho pra ler, a vontade é tanta, e cada vez que eu vejo alguém falando dele só aumenta <3
ResponderExcluir"Não se assuste: é um livro dentro de um livro, e a incoerência uma isca para uma viagem mais profunda," Adorei o jeito como organiza suas resenhas, separando os trechos e dando opiniões sobre eles e também foi a melhor resenha que li sobre a Menina Submersa até agora, entretanto, acho que não conseguiria ler sem procurar uma explicação lógica para tudo e isso acabaria por me frustrar ao final. Não está na minha lista de desejados apenas por isso.
ResponderExcluirParabéns pela resenha.
A história é ótima, te prende demais, principalmente pelo fato de não conseguir decifrar se tudo é real ou imaginação da personagem. Mas não é um livro pra todos
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