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Persuasão

Autora: Jane Austen
Páginas: 310
Editora: Martin Claret

 O enredo gira em torno de Anne Elliot, filha de Sir Walter Elliot, um vaidoso e esnobe baronete. No passado, Anne apaixonara-se por Frederick Wentworth, que, embora belo, inteligente e ambicioso, não tinha tradições ou conexões familiares importantes - e assim Anne fora persuadida pela família a romper com ele. Em 1815, momento em que se passam os eventos narrados no livro, a boa, generosa e sensível Anne Elliot continua solteira, mas agora, aos 27 anos, pensa com mais autonomia e maturidade. Agora, também, a situação financeira de Sir Walter Elliot é desfavorável, e ele se vê obrigado a alugar a propriedade da família. Por força do destino, o novo ocupante da residência é cunhado de Wentworth. Quase oito anos após o rompimento, Anne se verá novamente convivendo com seu grande amor, agora um capitão da Marinha, e reflexões, conjunturas e arrependimentos serão inevitáveis. Anne e Frederick se redescobrem apaixonados, e renovam o compromisso de casamento. Com o mesmo texto leve e envolvente - mas irônico e perspicaz - que a caracteriza, Austen faz aqui uma crítica à vaidade típica da sociedade inglesa do início do século XIX, ao mesmo tempo em que enfoca o tema do casamento, quase onipresente em seus escritos.


ATENÇÃO: Esta resenha conterá SPOILERS mais a frente, os quais serão devidamente indicados !!

Não é fácil fazer uma resenha de qualquer obra de Jane Austen sem contar quase toda a história. Diferentemente de outros livros, principalmente os mais contemporâneos, onde a história possui um problema a ser resolvido, um mistério a ser solucionado ou até mesmo uma conquista amorosa a ser realizada, e a leitura é motivada em grande parte pela curiosidade de sabermos como aquela situação se desenvolverá, nas obras de Jane Austen a trama principal não é o único ponto de interesse. Além da narrativa em torno dos protagonistas temos uma infinidade de outros assuntos abordados, que podem ir desde a vaidade excessiva até a diferença de educação oferecida aos homens e mulheres. Portanto, vale a pena a leitura, mesmo que já conheçamos o enredo através de filmes ou outras adaptações.

Última obra completa escrita por Jane Austen, e considerada por muitos como menos emblemática do que as anteriores, Persuasão narra a história de Anne Elliot, que outrora rompera um noivado com o homem por quem era apaixonada. Esta é uma obra riquíssima, que vai muito além do romance descrito, por isso optei por, dessa vez, fazer uma resenha diferente, incluindo um resumo completo da história com spoilers. Caso você não queira saber mais detalhes sobre o enredo (e consequentemente, como a história termina) recomendo que não leia o trecho indicado mais a frente.

Anne é a filha do meio do viúvo Walter Elliot. Elizabeth, a mais velha, é a preferida do pai, e Mary, a mais nova é a única casada. Sir Walter Elliot é um homem vaidoso e orgulhoso que mesmo com suas finanças em ruínas prefere manter a pose e o status do que cortar gastos desnecessários. Quando finalmente o Sr. Elliot decide alugar sua propriedade em Kellynch Hall e se mudar para Bath, uma cidade mais barata, Anne decide ficar mais alguns dias pela região, na casa de Mary.

Nesse meio tempo, Anne reencontra velhos conhecidos e entre eles está ninguém menos que o capitão Wentworth. Há cerca de 8 anos, Anne e Wentworth foram noivos por um curto período de tempo, até que, persuadida pela família e sua fiel amiga Lady Russel, Anne decide romper o noivado, não tendo visto-o desde então. Na época, Frederick Wentworth era um jovem marinheiro sem recursos, porém agora as coisas mudaram. Wentworth retorna da guerra com uma pequena fortuna e passa a ser considerado um bom partido para casamento.

INÍCIO DOS SPOILERS!!!

Wentworth desperta a atenção de Louisa e Henrietta, primas de Anne, e passa cada dia mais tempo entre elas, até que um grave acidente o faz se afastar por alguns dias. Algum tempo depois, Anne retorna para a casa de seu pai em Bath, pensando que nunca mais veria Wentworth novamente.

Em Bath, Anne conhece William Elliot, um primo distante e herdeiro presuntivo de Sir Walter Elliot (na época, os bens da família só poderiam ser herdados por filhos homens, e como Walter Elliot teve apenas 3 filhas, seu parente mais próximo é quem herdaria suas propriedades). Com o passar dos dias a amizade entre eles se estreita e William começa a demonstrar interesse por Anne. Lady Russel se agrada com o rapaz e sugere a Anne ser a próxima Lady Elliot, como fora sua mãe, se ela se casar com William Elliot. Anne começa a considerar a ideia e prestar mais atenção em seu primo, porém algo parece estranho para ela.

Quando alguns amigos em comum de Anne e Wentworth visitam Bath, ela acaba se reunindo com eles durante várias ocasiões e certo dia, durante um sarau, Wentworth vê Anne conversando com William, e percebendo as intenções do rapaz, deixa o salão quase que imediatamente.

Enquanto estava em Bath, Anne reencontra também uma velha amiga de colégio que agora está em uma situação difícil e, sem nunca ter deixado de apoiá-la e visitá-la, descobre que William Elliot não é quem aparenta ser, mas que possui um passado nada honroso. Com essas informações, Anne decide se afastar dele imediatamente, convivendo somente o suficiente para manter as aparências familiares.

Dias depois, uma das reuniões entre os amigos de Anne e Wentworth, o capitão é encarregado de escrever uma carta, e enquanto isso Anne conversa com o capitão Harville e discutem sobre a duração e intensidade do amor entre homens e mulheres, cada qual defendendo que seu gênero é o que nutre sentimentos mais profundos e duradouros. Wentworth ouve partes da conversa e, convencido de que a essência do amor de Anne não mudou mesmo após tantos anos, dá um jeito de disfarçadamente escrever uma carta para ela, onde confessa que seus sentimentos ainda subsistem e quando Anne a lê não se contém e vai atrás dele. Finalmente eles declaram seus sentimentos e reatam o compromisso.

FIM DOS SPOILERS!!!

Durante todo o livro percebemos um tom nostálgico, de algo que poderia ter sido e não foi. É perceptível que Anne mantém um certo arrependimento por ter desfeito seu noivado, porém, sendo uma mulher madura e consciente de seus atos, arca com as consequências de suas decisões, culpando somente a si pela decisão tomada, embora tenha sido persuadida a tal.

Aliás, essa é uma característica da protagonista comum a outros livros de Jane Austen: inteligente, meiga e, principalmente, sensata. Não apenas com relações a suas ações, mas também com o julgamento que faz da sociedade à sua volta. 
A excessiva importância que Walter Elliot dá à aparência e posição social, ou a descrição de mulheres que se interessam muito mais pelas posses do que pela personalidade dos homens com que desejam contrair matrimônio, são exemplos das críticas sociais intrínsecas a narrativa, não sendo, de modo algum, passagens forçadas ou cansativas de serem lidas. 

Os sentimentos narrados, apesar de profundos e persistentes, são descritos com uma delicada sutileza e é extremamente importante compreender além do que é dito, ler nas entrelinhas, e compreender o real significado de todos os gestos e olhares, especialmente considerando-se a época em que a história se passa.

Assim como em outras obras de Austen, temos uma grande teia de personagens, que de alguma forma fazem parte da mesma família, se relacionando. Não bastasse isso, a denominação utilizada para cada um deles, ora utilizando seus títulos, ora seus primeiros nomes, pode acabar causando certo estranhamento durante a leitura, porém não é algo que interfere na compreensão da história.

O romance é narrado de forma magistral, mas um ponto importantíssimo nesta obra é uma sutil crítica à dominação masculina nas artes e nas ciências: disfarçada de uma discussão sobre quem possui o amor mais profundo e mais duradouro, Anne Elliot declara que todos os romances e poemas foram escritos por homens porque estes sempre foram privilegiados com relação à educação recebida, “sempre tiveram a pena em suas mãos”.


"Os homens tiveram todas as vantagens contra nós, ao contarem sua própria história. Tiveram sempre uma educação muito superior, a pena estava em suas mãos. Não admito que os livros provem coisa nenhuma."  (pg. 277) 


Uma última informação que vale a pena destacar: os livros de Jane Austen utilizam uma linguagem mais rebuscada e com palavras não muito utilizadas hoje em dia. Além disso, embora se trate de um romance, o estilo narrativo é totalmente diferente do encontrado nos romances contemporâneos. Isso contribui para que a leitura flua mais lentamente, e o desenrolar da história pareça mais devagar, porém, antes mesmo da metade do livro já estamos habituados a esse estilo linguístico e narrativo, imaginando as cenas e até novos diálogos no mesmo estilo.

*A edição lida é da Editora Martin Claret. Foram encontrados pouquíssimos erros de revisão (palavras repetidas ou letras erradas), além da diagramação de uma carta nas páginas finais, que ficou um pouco confusa. Mais detalhes sobre a edição poderão ser encontrados na coluna De Olho no Livro, e para a compra recomendamos essas lojas: SUBMARINO e AMERICANAS

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